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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

FAMÍLIA DO ATOR LARRY HAGMAN REFUGIAVA-SE NO BRASIL

Casa que pertenceu à família Hagman em GO. No detalhe, foto de 2007 ( Gabriela Lima/G1 e Reprodução)

A morte do ator Larry Hagman, o famoso vilão J.R. Ewing na série "Dallas", na última sexta-feira (23), aos 81 anos, fez alguns moradores de Anápolis, cidade a 55 km de Goiânia, relembrarem a convivência com a família do artista.

"Ninguém sabia quem eram eles", diz a professora Maria Lúcia Rodrigues, que foi babá dos dois filhos do artista. Maria Lúcia trabalhou por 20 anos na "Nossa Fazenda Halliday", propriedade da mãe de Larry, a também atriz Mary Martin, e do padrasto, o produtor de cinema e arquiteto Richard Halliday, no interior goiano.

Lucy, como era chamada pelos patrões, conta que em Anápolis o casal de artistas aproveitava a tranquilidade e o anonimato. “Eu só fui entender quem eles eram quando fui morar lá [na Califórnia]”, relata a ex-babá. Em 1973, depois da morte de Richard, ela viajou para os Estados Unidos, onde passou um tempo na casa de Mary e, por quatro anos, viveu na casa de Larry Hagman, em Malibu, no estado da Califórnia, onde foi babá dos filhos dele.

Ela recorda que, nos EUA, tanto Mary Martin quanto Larry Hagman não podiam aparecer em público sem causar histeria nos fãs.

Do tempo em que conviveu com ele em Malibu, a ex-babá se lembra que o ator gostava bastante de comer abacate com açúcar refinado e gotas de licor. Ela diz que ele sempre saía e voltava de casa de helicóptero, durante a madrugada, pois trabalhava em Dallas, no estado do Texas.
Larry Hagman, em foto de arquivo feita em janeiro de 2012 (Foto: Mike Blake / Arquivo / Reuters)

Outro hábito do astro, segundo ela, era o fato de vestir roupas pretas. “Acho que era para não ser reconhecido”, diz.

De todos os anapolinos que conviveram com a família, Maria Lúcia foi a que mais teve contato com Larry Hagman, pois o ator não ia muito para a fazenda no interior do Brasil. Segundo ela, o ator parecia não se dar bem com o padrasto.

Visitas de Larry
Sobre as passagens de Larry por Anápolis, há poucos registros. Segundo relatos de pessoas que conviveram com o casal norte-americano, o astro esteve três vezes no local, sendo duas temporadas longas, antes do estrelato, e uma passagem rápida quando já era famoso.

Na propriedade, o casal tinha, além da casa principal, vários chalés em volta, as chamadas casas de visitas. A maior delas era de Larry Hagman. Apesar das poucas visitas do filho, a mãe fazia questão de manter uma casa só para ele. Com dois quartos, sala, cozinha, banheiro, varanda e piscina, ela fica bem ao lado da casa principal e é uma das poucas construções secundárias que foram mantidas.

O documentário "Hollywood no cerrado", dos diretores Armando Bulcão e Tânia Montoro, conta a passagem dessas e de outras celebridades da época pelo interior de Goiás. Nele há relatos de que Hagman ficou conhecido como "Seu Dallas", que gostava de sair para beber com os peões e chegou a ir a bailes em um povoado próximo à fazenda, o então Pau Terra, hoje distrito de Interlândia. Mas essas são afirmações controversas. Os antigos trabalhadores da fazenda falam que o ator era simpático, divertido, mas muito reservado.
Mary Martin em Anápolis, Goiás (Foto: Arquivo Hollywood no Cerrado/Armando Bulcão)

Chegada
A chegada de Mary e Richard a Anápolis foi no início da década de 60, quando o casal foi visitar a amiga Janet Gaynor. Primeira atriz a ganhar um Oscar, em 1928, Janet tinha uma fazenda na cidade e gostava de passar férias no interior do Brasil. Ela chegou a Goiás por intermédio de outra artista: Joan Lowell, atriz do cinema mudo nos filmes de Chaplin, escritora e pioneira no Cerrado.

Assim como Janet Gaynor havia feito, o casal decidiu comprar terras na região. No interior do Brasil, todos eles aportuguesaram os nomes. Mary e Richard eram dona Maria e seu Ricardo. Janet, dona Janete, e Joan Lowell, dona Joana.

A história das atrizes norte-americanas residentes em Anápolis é relatada no documentário de Bulcão. "Quando começamos a produzir o filme, isso era uma lenda , mas acabamos vendo que era verdade", disse o diretor em entrevista ao G1. Em sua biografia, Mary Martin dedicou um capítulo, com o título "Sonho na Selva", para relatar como era a vida com o marido em Anápolis.
José Caixeta Ramos, dono de casa que pertenceu à atriz Mary Martin (Foto: Gabriela Lima/G1)

Nossa Fazenda
A antiga mansão que outrora recebeu artistas da Broadway e Hollywood hoje encontra-se abandonada. Mas o atual dono da propriedade, localizada a cerca de 7 km do trevo da cidade, na BR-153, no sentido Anápolis-Ceres, o produtor rural José Caixeta Ramos, diz que tem a intenção de restaurá-la.

"Está totalmente em ruínas", diz a professora universitária Neide Rodrigues Ramos, de 58 anos, mulher de José Caixeta. Ela guarda lembranças da época em que Mary, ganhadora do Emmy e reconhecida de grandes musicais, como "Peter Pan" e "A Noviça Rebelde", e o segundo marido, o produtor de cinema e arquiteto Richard, viveram lá -- um período de quase 20 anos. Neide é é filha de Zico Rodrigues Sobrinho, funcionário do casal que manteve as terras em Goiás, e praticamente nasceu no local.

Do luxo da mansão com ampla sala envidraçada, quatro lareiras, jardins de inverno, banheiros amplos com teto de vidro e piscina e cascatas com cristais, resta pouco. A estrutura de tijolos, cimento e madeira está de pé.

Assim como o pai, a mãe e todos os irmãos, Neide, que é irmã de Maria Lúcia, a babá, trabalhou para os norte-americanos no local. Viveu os tempos áureos da fazenda e foi gerente da boutique 'Nossa Loja', que Mary Martin abriu na Travessa Nossa Senhora, no Centro de Anápolis. Hoje, no lugar, funciona uma clínica.
Casa de Mary Martin, mãe de Larry Hagman, em Anápolis, deve ser restaurada (Foto: Gabriela Lima/G1)

No início da décade de 80, de volta aos EUA, Mary Martin vendeu parte da fazenda para José Caixeta, com todos os móveis dentro. Durante 10 anos, ele e a mulher preservaram o local. "Mas é uma arquitetura que precisava de constante manutenção, era muito dispendioso", explica o produtor rural, que vendeu a casa em 1996.

A compradora, conta ele, pretendia montar um hotel fazenda. Mas o negócio não deu certo, ela passou o imóvel adiante e a pessoa que comprou começou a desfigurar a casa. "Tenho arrependimento de ter vendido isso aqui", diz. Sensibilizado com a situação de estrago e abandono, há um ano e meio, o produtor rural decidiu comprar o imóvel de volta.

AUTOR: G1/GO

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