Apesar de estarem casados judicialmente, o casal estava separado na época do crime, em 2008.
O júri começou na terça-feira (24) e ocorre no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da capital. Após os interogatórios dos acusados de matar Humberto, terá início a fase de debates entre a acusação e defesa, com duas horas e meia para cada uma das partes. Se o promotor José Carlos Consenzo optar pela réplica, terá mais duas para sua explanação, mesmo tempo concedido aos defensores para tréplica. Em seguida, o Conselho de Sentença se reúne para decidir sobre o caso.
Nesta quarta-feira (15), segundo dia de julgamento, os destaques foram para os depoimentos dos irmãos Carlos Eduardo Magalhães, de 22 anos, e de Marcus Vinícius Campos de Magalhães, filhos da ré Giselma e da vítima Humberto.
Como testemunha de defesa, o estudante de direito Marcus Vinícius Campos de Magalhães afirmou acreditar na inocência da mãe, Giselma. Filho mais velho do casal, ele disse que a mãe não tinha motivos para matar o pai, mas não conseguiu, em seu depoimento, segundo o advogado de defesa, Ademar Gomes, defender a mãe.
"Ele estava tenso, nervoso, travou por completo. Não posso aceitar isso de um estudante de direito. Ele prejudicou muito a defesa. O filho não soube defender a mãe", afirmou Gomes.
À tarde, o estudante de administração Carlos Eduardo Magalhães, de 22 anos, disse, por sua vez, que a mãe Giselma Carmen Campos perseguia o pai. “Ela vivia perseguindo meu pai, ligava para saber o horário de entrada e de saída da empresa, ligava para os seguranças para saber se ele estava acompanhado de alguém”, afirmou durante os questionamentos da promotoria.
Carlos Eduardo afirmou que a mãe nunca negou o crime, apesar de ressaltar que eles não falavam sobre o caso. “Em nenhum momento ela tentou se defender do crime, dizendo que não mandou executar meu pai."
A ré estava na sala durante o depoimento de Carlos Eduardo. Ela manteve a cabeça baixa, escrevendo em folhas de papel. Giselma não esboçou reação durante as respostas do filho ao promotor do caso. O jovem chamou a mãe pelo nome durante todo o tempo. Questionado pelo promotor José Carlos Consenzo sobre o motivo de se referir a mãe como Giselma, ele respondeu que sempre a tratou assim. “Eu não considero mãe uma pessoa que tem coragem de fazer comigo o que muitas pessoas não fariam”, justificou.
Mais tarde, questionado pelos jornalistas, na saída do fórum, por qual motivo não chama Giselma de mãe, Carlos Eduardo disse que "é consequência das atitudes dela". "Dói não ter mãe. Não chamar de mãe é a consequência das atitudes dela. Eu queria muito ter uma mãe que eu pudesse acordar e chamar de mãe, mas infelizmente não é o caso."
O crime
Segundo a polícia e a promotoria, depois da separação informal, Giselma passou a planejar o assassinato de Humberto.
Giselma procurou o irmão Kairo Alves, no Maranhão, que havia saído da prisão, onde passou 18 anos condenado por tráfico de drogas. Segundo a polícia, Kairo veio a São Paulo e contratou dois pistoleiros no Centro de São Paulo. A investigação mostrou que Giselma pagou ao irmão e aos pistoleiros cerca de R$ 30 mil.
No dia da morte, um dos assassinos utilizou o celular do filho mais velho de Humberto, entregue por Giselma, e telefonou para o executivo dizendo que o jovem estava passando mal, no meio da rua. Humberto saiu de casa apressado e foi à rua indicada procurando o filho de casa em casa. Ao voltar para o carro, um motoqueiro se aproximou e depois de uma rápida discussão disparou dois tiros que mataram Humberto.
Ciúmes e dinheiro
Segundo Carlos Eduardo, os pais sempre tiveram um relacionamento difícil. De acordo com o estudante, o pai havia saído de casa em outubro de 2007, mas pagava todas as despesas do imóvel e da família. “Meu pai não queria entrar com processo litigioso, que era muito desgastante, queria resolver de forma consensual”, disse.
O promotor perguntou qual motivo que Giselma teria para matar o executivo. “Uma das coisas é que a Friboi era uma empresa familiar e os donos eram muito acessíveis. Então, ela não queria perder esse status para outra mulher, além da condição financeira. O que ela não queria é que a Adriana [mulher do pai na época do crime] tivesse acesso ao dinheiro dele.” Carlos Eduardo contou que a mãe demonstrava ter muito ciúmes da mulher que vivia com o executivo.
O estudante afirmou que “não há ódio" na decisão de testemunhar contra a mãe. "Quero Justiça. Ela planejou isso durante muitos meses. Eu vivi em casa como um inimigo. O que é espantoso nessa história é ela ter feito o que fez sendo que ele tinha sido muito bom para ela.”
Carlos Eduardo detalhou o que fez na data da morte do pai, em dezembro de 2008. Ele disse que não chegou a desmarcar um jantar que havia agendado com o executivo. O estudante contou que não encontrou o celular e que a mãe pediu que ele não ligasse para Magalhães porque estava “resolvendo um problema com ele”.
Depois do crime, Giselma pediu ao filho, segundo o relato dele, que omitisse esse pedido para a polícia. “Como eu sabia que ela já tinha um histórico de ser uma pessoa agressiva, de muitos conflitos com meu pai, eu fiquei com medo e omiti informações para não incriminá-la.”
O estudante relatou aos jurados que foi a mãe quem o comunicou que o celular dele estava envolvido no crime e que a polícia suspeitava da participação de Carlos Eduardo na morte. Segundo as investigações apontaram depois, o aparelho foi usado pelo tio dele, Kairon Vaufer Alves, também julgado pelo assassinato, para atrair o executivo para a rua do assassinato.
O jovem garantiu que não conhecia o tio porque ele foi preso antes de o estudante nascer e permaneceu na cadeia por muitos anos. Em relação a fotografias do tio encontradas pela polícia no quarto dele, Carlos Eduardo disse que a mãe havia pedido que ele digitalizasse as imagens e disse apenas que eram “da família”.
Ele acredita que a mãe tentou o incriminar. "Desde o momento que ela colocou as fotos do Kairon no meu guarda-roupas, ela tentou me conectar a ele, fora ter utilizado o meu celular.” Segundo o jovem, a mãe viajou para o Maranhão, onde vivia o tio, cerca de seis meses antes da morte de Humberto Magalhães.
As defesas de Giselma e de Kairon abriram mão de fazer perguntas para a testemunha e Carlos Eduardo foi dispensado por volta das 19h30 desta quarta-feira. Depois, foi ouvida a testemunha Leila Ferreira da França, ex-empregada de Giselma. Ela falou sobre o relacionamento dela com os filhos e o depoimento de Marcus Vinícius Campos Magalhães começou às 19h55 e encerrou o julgamento na quarta.
No primeiro dia, outras três testemunhas de acusação foram ouvidas pelo júri. A veterinária Adriana Ferreira Domingos, que vivia com a vítima na época do assassinato, foi a terceira e última a depor. Ela relatou as ameaças da ex-mulher da vítima, Giselma Carmen Campos.
“Ela ligava no meu celular e falava um monte de coisas, xingava, dizia um monte de barbaridades, me ameaçava, ligou inclusive no meu trabalho. Falou que eu não ficaria com ele e que faria o possível para que isso acontecesse”, afirmou.
A veterinária contou aos jurados que os dois iniciaram o relacionamento em dezembro de 2007, quando Magalhães já estava separado da mulher, e passaram a morar juntos em São Paulo em fevereiro de 2008. “Eu quero Justiça também por causa da família dele. A mãe está sofrendo, não é fácil sair de Campo Grande e vir para cá, mas eu vou fazer Justiça. Quero ver na cadeia quem fez isso com ele. Eu não tenho ódio nenhum dela. É uma coitada. Mandou matar o pai dos filhos dela”, afirmou.
Antes dela, prestou depoimento o delegado Rodolpho Chiarelli Júnior, que investigou o assassinato. Ele disse não ter dúvidas que Giselma planejou o crime. “Eu afirmo e reafirmo que ela é a mentora intelectual desse crime e é uma afronta para mim ela estar solta”, afirmou o policial, que trabalhava no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Ainda de acordo com Chiarelli, todos os acusados de envolvimento no assassinato – além dos irmãos, outros dois suspeitos foram presos - sabiam que foi a ex-mulher quem planejou a morte do empresário. Inicialmente, o valor fixado era de R$ 15 mil, mas passou para R$ 30 mil, segundo o delegado. Os acusados dizem, no entanto, que a ré não efetuou todo o pagamento.
Segundo o delegado, Kairon e Giselma estiveram juntos antes e depois do crime, na data em que o assassinato foi cometido. Além disso, Kairon teria confessado durante depoimento que depois do assassinato foi até Alphaville, na Grande São Paulo, local onde a irmã residia, pegar o dinheiro prometido. O delegado ainda afirma que a mãe reagiu com indiferença ao saber que o filho era suspeito do crime e que não esboçou nenhuma reação.
Para o promotor José Carlos Cosenzo, o primeiro dia de júri foi bastante favorável à acusação. "Foi excelente em termos de provas técnicas, rigorosamente técnicas. Vocês vão ver posteriormente que todas essas provas técnicas estão rigorosamente estabelecidas no interrogatório do Kairon. Ou seja, o que ele disse depois nada mais fez do que referendar tudo aquilo que a polícia colheu", afirmou Cosenzo.
A ré, que responde pelo crime em liberdade, e o defensores dela e do irmão deixaram o fórum na noite desta terça-feira sem falar com a imprensa.
AUTOR: G1/SP
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