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segunda-feira, 30 de junho de 2014

COMBATE AO CRIME NAS DIVISAS DOS MUNICÍPIOS CEARENSES

Centenas de caminhos levam para um lado ou outro nos Estados de Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Tantos acessos nas divisas preocupam as polícias Civil e Militar. Para não apenas verem os bandidos atravessarem uma linha imaginária e tomarem rumo ignorado após assaltos, roubos, sequestro e tráfico de drogas, a ordem dos Estados é integração. Do jeito que é possível.

Isso porque quando as portas de entrar e sair estão escancaradas, o criminoso que tem vez quer retornar outras vezes. A reincidência é comprovada pelos órgãos de segurança que lutam para desarticular as chamadas "quadrilhas interestaduais".

Com exceção das rodovias federais, por muito tempo os acessos nas divisas entre os Estados do chamado Sertão Setentrional eram negligenciados pelos poderes públicos e, assim, pelas forças de segurança. Mas veio a sequência de explosões de bancos, caixas eletrônicos e até mesmo investigações apontando o tráfico interestadual de drogas por terra. O crime nas fronteiras obrigou a comunicação entre as secretarias de segurança.

A reportagem ouviu diretores e comandantes de Polícia do Ceará e dos quatro Estados que fazem fronteira e que compõem o Comitê Integrado Divisa Segura. Mesmo com pouca estrutura e pequeno efetivo, unidades policiais nas fronteiras começam a trabalhar de forma cooperada e já obtêm os primeiros resultados no combate à criminalidade além-fronteiras. Em junho do ano passado, uma quadrilha com cerca de 15 assaltantes destruiu uma agência bancária no município de Parambu ao explodir caixas eletrônicos. Na conta da ousada ação, policiais e funcionários do banco foram feitos reféns. Ainda foi provocado incêndio em três carros. O bando fortemente armado empreendeu fuga em carro e moto em direção a um dos vários acessos que levam ao Estado do Piauí.

Avisado do ocorrido, o Comando de Policiamento do Interior do Estado vizinho mobilizou mais de 20 homens para ajudar os policiais cearenses nas buscas nos matagais e nas estradas. A essa altura, os principais acessos na fronteira estavam fechados.

Integrar o Nordeste

"Antes não havia essa articulação e o campo estava livre para o mal feitor", afirma o coronel Lindomar Castilho, comandante de Policiamento do Interior do Piauí. "A intenção é integrar o Nordeste, não só a Polícia Militar, como a Civil. Tentamos que os policiais nessas áreas se conheçam, reforcem nas diligências", conclui o oficial.

Dessa intenção compartilha o delegado Jean Francisco, secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública da Paraíba, que tenta fazer das ocorrências nas fronteiras uma rotina entre os comandos de policiamento no Nordeste. Nos diálogos das divisas, se não chega a rádio frequência fazem uso de aplicativos e de redes sociais pelo celular, especialmente WhatsApp.

Investigações

Um caso emblemático, foi a investigação de um crime na Paraíba que possibilitou à polícia cearense resolver um sequestro em solo próprio. "Estávamos investigando um criminoso com interceptações telefônicas e identificamos alguém ter feito contato solicitando armamento e algumas informações suspeitas. O código de área era 88. Perguntamos à Polícia do Ceará se havia algum sequestro em andamento e confirmaram. Foi decisivo", explica o delegado da Paraíba.

Pelo Ceará, o delegado Jocel Dantas, diretor de Polícia do Interior, afirma que armas têm sido apreendidas também graças à comunicação interestadual. "Essa cooperação no diálogo é justamente para evitar problemas e melindres quando policiais de um Estado precisarem atravessar a divisa", acrescenta.

Para o coronel Francisco Reinaldo, do Rio Grande do Norte, essa integração tem ajudado na melhor fiscalização de nada menos que 30 diferentes acessos que ligam aquele Estado ao Ceará e à Paraíba.

"No mês passado, um grupo realizou assalto em Santa Cruz, na Paraíba, e tínhamos uma barreira montada e prendemos todos e colhemos dezenas de produtos eletrônicos", afirma o comandante potiguar.

Mas para o sucesso nas barreiras na estrada, tentam que o diálogo interestadual seja mais decisivo que a sorte de um flagrante.

"O problema é o baixo efetivo", diz delegado

Tem três anos a criação do Comitê Integrado Divisa Segura, composto por seis dos nove Estados do Nordeste no trabalho de combate ao crime nas fronteiras. Mas para o delegado Jean Francisco, presidente do Comitê e secretário-adjunto de Segurança no Estado da Paraíba, os resultados positivos da integração são reflexo da ousadia das equipes que estão trabalhando, apesar de todas as dificuldades. Baixo efetivo seria a maior delas.

"Já é difícil articular dentro de um Estado as polícias. Imagina tentar fazer isso em nível de Nordeste. É uma ação muito ousada por parte da gente colocar essa operação em prática. O grande desafio é fazer com que o Nordeste se fale de maneira instantânea para policiar melhor suas divisas", afirma Jean Francisco.

O Comitê Integrado Divisa Segura foi criado em junho de 2011. Começou com os Estados de Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Depois, o convite foi feito a Ceará, Piauí e Maranhão. Representantes civis e militares de cada estado reúnem-se mensalmente para discutir estratégias operacionais.

Barreiras

As operações têm ocorrido por meio de bloqueios de estradas - em cada fronteira são realizadas ao menos três barreiras por mês. Combate ao roubo de cargas, roubo a bancos e tráfico de drogas e armas são o cerne das operações. Os encontros mensais do Comitê apresentam duas reuniões paralelas que são concluídas conjuntamente ao final: uma de ordem operacional e outra de inteligência. "Temos agregado na troca de informações a Polícia Rodoviária Federal e as secretarias da Fazenda", explica o delegado Jean Francisco.

Uma das orientações, segundo o delegado, é ter o comitê como a grande pedra no caminho do chamado Novo Cangaço espalhado pelo Nordeste, sobretudo na forma de quadrilhas que explodem bancos. "Hoje o Nordeste pode dizer que tem uma operação integrada. Antes, não. Os secretários de Segurança não davam a devida importância", afirma o delegado.

O desinteresse em relação ao comitê, na visão de seu presidente, é sempre um risco à medida em que haja mudanças nos comandos das secretarias de segurança pública. "Tentamos que os novos gestores mantenham esse trabalho feito pelo anterior".

O desafio está lançado: "as dificuldades operacionais são grandes. Falta efetivo policial, estrutura de armamentos, viaturas. Alguns Estados têm feito esforço além da conta, mas estamos aquém da realidade do que o Nordeste precisa", afirma.

AUTOR: DN

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