Um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho(CV), do Rio de Janeiro, foi preso enquanto chefiava as comunidades de Niterói de dentro do território cearense. A investigação de dois meses da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) apontou que Luís Cláudio Gomes, 42, o 'Pão com Ovo', estava infiltrado em igrejas evangélicas atuando como pastor. Ele se identificava como 'Daniel', e dizia ser jogador de futebol da segunda divisão dos Emirados Árabes, conforme informou a PC.
Segundo o titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Raphael Vilarinho, ‘Pão com ovo' foi preso na noite da última terça-feira, 1º, ao sair de um culto da Avenida Leste Oeste, o nome da igreja não foi divulgado pela Polícia. Dentro do carro importado estavam dois paulistas, também pastores, que estão sob a investigação da Polícia Civil.
O veículo utilizado por Luís Cláudio estava no nome do colega. O chefe do tráfico relata que estava no Ceará para se afastar do crime e se dedicar a igreja. No entanto, as investigações da Polícia do CE e do RJ apontam que ele comandava o crime de dentro do território cearense, inclusive realizando viagens até as comunidades que liderava, há pelo menos dois meses. A linha de investigação também aponta o uso de mensageiros, que iam e voltavam para o RJ, a mando de Luís Claudio.
Envolvido em fuzilamento de sargento e ameaças ao secretário do sistema penitenciário
Dos 24 anos de idade, 17 foram vividos dentro do sistema penitenciário do Rio de Janeiro, aonde chegou a ser um dos primeiros internos do Bangu I. Ele seria um dos chefes do tráfico de drogas na área metropolitana de Niterói, que abrange as comunidades de Vila Ipiranga, Nova Brasília e Engenhoca.
Vilarinho destaca a 'audácia' de Luís, que acompanhado de outros líderes de facções, matou o sargento da Polícia Militar Joilson da Silva Gomes, em Niterói, com 50 tiros de fuzil.
A vítima teria participado de uma operação para acabar com um baile funk patrocinado pela facção. Em 2010 'Pão com ovo' foi denunciado pelo Ministério Público do RJ por articular a execução do Secretário de Estado de Administração do Sistema Penitenciário do RJ, coronel César Rubens Monteiro de Carvalho.
Com seis mandados de prisão em aberto, ele acumula crimes de roubo qualificado, sequestro, associação ao tráfico e homicídio. O vasto currículo criminoso fez com que o disque-denúncia oferecesse R$ 1 mil por qualquer informação que levasse a Polícia ao paradeiro do chefe do tráfico.
Em Fortaleza traficante vivia na Beira Mar e ostentava carro importado
Em Fortaleza a rotina de 'Pão com Ovo' nada lembrava a vida de um criminoso procurado. Segundo as investigações de Vilarinho, o chefe do tráfico morava com a esposa e o filho em um apartamento na Avenida Beira Mar, cujo metro quadrado custa em torno de R$ 12 mil. conforme o Sindicato dos Corretores de Imóveis. O automóvel que o suspeito dirigia, um Kia Sportage, foi avaliado em pelo menos R$ 80 mil.
A esposa dele possuía motorista e secretaria particulares. As atividades mais constantes dele, conforme a Polícia eram frequentar academias e restaurantes da orla de Fortaleza.
Para o titular da DRF, a vida luxuosa do suspeito sequer poderia ser comparada a de um jogador da segunda divisão. Outra atividade exercida por Luís era a de frequentar cultos evangélicos, inclusive pregando a palavra de Deus como pastor.No entanto, a Polícia acredita ser um disfarce para não ser encontrado. No Ministério da Igreja ele ganha espaço e confiança das pessoas com quem trabalhava.
Migração de criminosos para estados brasileiros
Para o delegado Geral da Polícia Civil, Andrade Júnior, é comum que líderes de facções administrem as 'empresas criminosas' distantes do local. "Lá no RJ seria facilmente identificado e preso. É normal no nível de crime praticado pelo Luís Cláudio, que ele não tenha atividades criminosas no estado do Ceará, onde reside", relatou.
Segundo o delegado, outro exemplo dessa migração é o caso dos “cartãozeiros” de Crateús. Andrade Jr. explica que os criminosos não atuam no município em que residem, no entanto, agem no restante do Ceará, no Brasil e até no exterior.
Outro caso citado pelo delegado geral foi o de Pedro Gomes da Silva Filho, 53, conhecido como Pedro das Vacas, que foi detido em julho deste ano suspeito de sequestro e roubo a banco no estado do Amazonas. Apesar de resistir no Ceará, ele estava realizando crimes em outros estados.
Por essa migração, o delegado ressaltou a importância dos projetos em parceria com o Ministério da Justiça, que têm reunido profissionais de segurança de todos os estados e criado uma rede de informações nacionais. Segundo ele, foi assim que a Polícia do Ceará teve acesso à informação de que o traficante poderia estar em solo cearense.
O delegado relatou que as delegacias especializadas do Ceará estão trabalhando com o objetivo de combater a macro criminalidade, que normalmente são crimes que tem ligações outras regiões. Os crimes de micro criminalidade ele relata que são designados às delegacias distritais e que estas, tão logo sejam equipadas com novos recursos e mais policiais, devem se tornar mais atuantes.
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