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sexta-feira, 10 de abril de 2015

'DESORIENTADOS', DIZ DIRETORA APÓS MORTE DE IRMÃS, NA PARAÍBA

Vela teria caído em colchão e iniciado o incêndio que matou as duas crianças, de 8 e 9 anos, em João Pessoa (Foto: Walter Paparazzo/G1)

“Está todo mundo desorientado. Uma morte tão triste para duas crianças. A gente está sem palavras”, relatou Josicléa Figueiredo, que é diretora adjunta da Escola Municipal General Angelo F. Notare, onde estudavam as duas irmãs que morreram carbonizadas na noite desta quarta-feira (8) em João Pessoa. Maria Cecilha, de 8 anos, fazia o 3º ano do ensino fundamental, enquanto que a irmã, Maria Vitória, de 9, cursava o 4º ano.

A escola fica localizada no Treze de Maio, a cerca de um quilômetro de onde as meninas moravam. Na manhã desta quinta-feira (9), não houve aulas e uma faixa preta indicava o luto dos professores, alunos e funcionários da instituição. “Ela [Cecilha] era muito delicada, já chegava dando boa tarde a todo mundo”, lembrou Josicléa.

As duas meninas morreram após um incêndio em uma casa na comunidade Riachinho, no bairro Treze de Maio. Conforme informações do Corpo de Bombeiros, as duas meninas estavam dormindo no quarto da casa quando o fogo começou, enquanto a mãe, Cibele Campos de Oliveira, de 26 anos, e um irmão delas, de 6 anos, dormiam na sala. As duas meninas não conseguiram fugir e morreram abraçadas no quarto.

Os corpos das irmãs só vão ser liberados depois que o resultado do exame de DNA for divulgado, segundo o diretor-geral do Instituto de Polícia Científica (IPC) da Paraíba, Humberto Pontes.

Incêndio
Além de destruir o quarto, o fogo ainda se espalhou e destruiu parte da casa. Os vizinhos controlaram o fogo, arrombaram a porta e ajudaram a resgatar a mãe e o filho caçula. Dois dos três gatos de estimação da família também morreram.

A vela que teria causado o incêndio que matou as irmãs foi deixada acesa porque uma das crianças tinha medo de dormir no escuro. A mãe relatou que a filha mais nova pediu que a mãe deixasse a vela acesa. 

A energia elétrica da casa em que moravam Cibele, as duas meninas e o filho mais novo havia sido cortada por falta de pagamento.
“Eu tive pena da mais nova, porque ela não queria dormir no escuro. A mais velha, não. A mais velha disse para deixar a vela apagada, que não queria a vela acesa. Aí eu disse ‘não filha, sua irmã não quer, ela até chorou antes’. Ela insistiu que queria dormir com a vela apagada, mas eu deixei acesa, fora da cama. Acho que em alguma hora o gato bateu e virou no colchão”, relembrou.

Ainda de acordo com Cibele Campos, que trabalha como empregada doméstica, ela chegou a solicitar ajuda ao pai das crianças para quitar o débito com a concessionária de energia elétrica na Paraíba, a Energisa, mas ele não pode deixar o dinheiro. Por conta do uso das velas com os filhos pequenos em casa, Cibele contou que pediu à ex-sogra que passasse um tempo com as crianças até que o débito fosse quitado e a energia elétrica religada, mas também não conseguiu ajuda.

“Pedi a minha ex-sogra para levar meus três filhos para lá, porque eu não queria ficar com eles dentro de casa usando vela perto deles. Não queria deixar meus filhos lá. Foram encher a cabeça dela, dizendo que eu só vivia andando no meio do mundo. Eu não tinha condições de pagar [a contra de luz], eu não tinha condição de nada. 

Era para eu pagar”, lamentou a empregada doméstica.
Casa onde irmãs morreram em incêndio foi interditada pela Defesa Civil em João Pessoa (Foto: Walter Paparazzo/G1)

O pai das meninas mortas no incêndio, Joelson Mendes da Silva, comentou que a pendência financeira com a Energisa era de R$ 350. Segundo ele, que trabalha cuidando de um idoso, não havia condição financeira de pagar as contas em atraso. “A gente tinha que ir na Energisa, fazer um acordo, parcelar os atrasados. Aí chegou para pagar R$ 350 dos atrasados para eles virem ligar. Ainda ia demorar alguma tempo [para religarem]”, explicou.

Joelson Mendes contou ainda que chegou a ver as filhas horas antes do incêndio, no início da noite de quarta-feira (8), para deixar pães para que elas jantassem. “Passei no início da noite para deixar os pãezinhos delas. Então ligaram para mim de meia-noite contando tudo, eu fiquei desesperado. Pensei que era uma brincadeira. Eu não tive como deixar o trabalho porque o idoso toma remédio controlado e, quando eu fui falar, ele também começou a passar mal. É o meu ganha-pão, eu não posso perder o emprego, não tenho como conseguir outra coisa”.

Interdição
A casa onde ocorreu o incêndio que matou as duas irmãs de 8 e 9 anos, na noite de quarta-feira (8) em João Pessoa, foi interditada na manhã desta quinta-feira (9) pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMPDEC-JP). A partir desta quinta somente profissionais da Defesa Civil, bombeiros ou algum polícia para realizar a perícia dentro do imóvel.

“O imóvel tem algumas avarias por conta do incêndio, e até que seja feita uma reparação naquilo que está comprometido, o imóvel não estará aberto para nenhum familiar. Se alguém da família precisar entrar, vai ter que ser acompanhado de um integrante da equipe técnica”, explicou Genival Quirino Seabra Filho, diretor operacional da Defesa Civil de João Pessoa.

AUTOR: G1/PB

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