O governo federal instituiu, em 2003, o dia 28 de abril como o Dia Nacional da Caatinga (Foto: Cid Barbosa/Diário do Nordeste)
O Dia Nacional da Caatinga é comemorado hoje, 28 de abril, e o transcurso da data proporciona o debate sobre a importância desse bioma, a convivência com o Semiárido e os períodos de escassez hídrica. Depois de quatro anos de chuvas abaixo da média, discutir a preservação da cobertura florestal do sertão nordestino é cada vez mais imprescindível.
Afinal, a água que chega à Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e a outros centros urbanos cearenses é proveniente das bacias hidrográficas que estão no sertão.
O governo federal instituiu, em 2003, o dia 28 de abril como o Dia Nacional da Caatinga. A data homenageia o professor João de Vasconcelos Sobrinho, pernambucano, pioneiro nos estudos ambientais sobre a região no Brasil. Entidades ligadas ao setor ambiental promovem ações e debates sobre o bioma Caatinga, único no mundo, colocando em pauta a necessidade de sua conservação.
Está prevista para hoje a realização de sessão solene, na Assembleia Legislativa do Ceará, para a entrega da Medalha Ambientalista Joaquim de Castro Feitosa, no Plenário 13 de Maio. O evento faz parte das comemorações do centenário de nascimento do agrônomo e pesquisador da Caatinga.
Prioridade
A Caatinga é um bioma único no mundo. Entretanto está muito devastado. A sua preservação é de fundamental importância para a economia regional. A água que abastece Fortaleza e municípios da Região Metropolitana vem do Açude Castanhão, em Jaguaribara, por meio do Canal do Trabalhador e do Canal da Integração. As bacias dos Rios Jaguaribe e Salgado são de fundamental importância para o abastecimento das casas, comércio e indústria de vários municípios cearenses.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Caatinga tem 45% de sua área total desmatada no Brasil. Os dados do Ministério mostram, ainda, que, dos dez municípios que mais contribuíram para o desmatamento da Caatinga, quatro são cearenses. Boa Viagem, Tauá, Acopiara e Crateús estão entre as cidades com maior índice de degradação da vegetação original no País.
Reconhecimento
No âmbito nacional, há uma Proposta de Emenda à Constituição, a PEC 504/10 que pretende transformar a Caatinga e o Cerrado em patrimônios nacionais. O projeto já foi votado no Senado e entrou por pelo menos três vezes na chamada "ordem do dia" da Câmara, mas não foi votada por ainda não ser percebida como pauta prioritária pelos membros da Câmara.
Se aprovada, a PEC da Caatinga e do Cerrado irá garantir o reconhecimento dos dois biomas e, por meio disso, poderá atrair mais ações de preservação ambiental e investimentos para a região e também poderá contribuir para a proteção dos recursos hídricos e segurança hídrica no Nordeste. Políticos e entidades ligadas ao setor ambiental estão mobilizados para votação e aprovação no Congresso Nacional da PEC 504/10.
O desmatamento da Caatinga e o baixo índice de áreas protegidas contribuem para o desgaste do reabastecimento dos reservatórios, que já contam com pouca água. Atualmente, 112 açudes têm volume em torno de 30% do total de suas capacidades no Estado do Ceará.
"A situação é preocupante, pois, se não cuidarmos das regiões do entorno desses açudes, o risco de desaparecimento da água restante é eminente", observou o secretário executivo da Associação Caatinga, Rodrigo Castro. "Preservar as margens dos açudes, rios, riachos e nascentes garante a preservação da água, a capacidade de armazenamento dos reservatórios e a recarga hídrica das barragens".
Estima-se que 13 metros cúbicos de água são consumidos por segundo em Fortaleza e Região Metropolitana, utilizados no consumo humano e industrial. Destes 13, oito são provenientes do Castanhão, que atualmente conta com menos de 25% da capacidade; 3,6 m³ vêm do Canal do Trabalhador e 0,4% da água que utilizamos vem da bacia hidrográfica da Região Metropolitana. Ao todo, mais de 60% da água que abastece Fortaleza e Região Metropolitana vem do interior cearense.
Ir além
"As obras de infraestrutura, transferência de águas são importantes, mas o debate precisa ir além, pois há necessidade de investimentos em prevenção, recuperação das matas ciliares, de encostas, e de campanhas de uso racional da água", frisou Castro. "A demanda de água é crescente, mas a oferta vem caindo. Os açudes estão armazenando menor volume por causa do assoreamento e os rios estão degradados", salientou.
O secretário executivo da Associação Caatinga observa que não só o Nordeste, mas o Brasil enfrenta uma crise hídrica cada vez mais grave. "Onde estão as campanhas de consumo consciente, racional?", questionou. "E as leis de punição para quem desperdiça água?".
O coordenador do Pacto Ambiental dos Inhamuns, Jorge de Moura, chamou a atenção, ainda, para o problema de introdução de espécies exóticas que concorrem com a flora nativa.
Ontem, foi realizada, na Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra das Almas, em Crateús, caminhada ecológica alusiva ao Dia Nacional da Caatinga.
Saiba mais
- A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e foi reconhecido como uma das 37 grandes regiões naturais do Planeta, ao lado da Amazônia e do Pantanal
- É o terceiro bioma mais degradado, depois da Mata Atlântica e Cerrado. 45% de sua área já foi desmatada
- A Caatinga possui alto grau de endemismo (cerca de 1/3 de suas plantas e 56% de seus peixes são espécies exclusivas), ou seja, essa riqueza biológica não pode ser encontrada em nenhuma outra parte do mundo
- Os serviços ambientais oferecidos pela Caatinga asseguram a convivência do ser humano com o ambiente e sua biodiversidade tem grande importância econômica e social
- A Caatinga ocupa uma área de cerca de 840 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 11% do território nacional
- Engloba os Estados Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais
- Rico em biodiversidade, o bioma abriga 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 abelhas
- Cerca de 27 milhões de pessoas vivem na região, a maioria carente e dependente dos recursos do bioma para sobreviver
Mais informações:
Associação Caatinga
Fone: (85) 3241.0759
www.caatinga.org.br
AUTOR: DN
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