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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

MORRE REI ABDULLAH, DA ARÁBIA SAUDITA

O rei Abdullah, da Arábia Saudita, em foto de 27 de junho de 2014 (Foto: AP Photo/Brendan Smialowski, Pool, File)

O rei saudita Abdullah bin Abdul Aziz morreu à 1h desta sexta-feira (23), pelo horário local (noite de quinta-feira no Brasil), anunciou a TV estatal da Arábia Saudita. Com a morte de Abdullah, seu meio-irmão Salman Ben Abdel Aziz, de 79 anos, se torna o novo rei da Arábia Saudita, segundo comunicado transmitido pela TV.

De acordo com algumas agências de notícias, o rei saudita tinha 91 anos. Porém, não se sabe a data exata de seu nascimento. Muqrin bin Abdul Aziz, irmão mais novo de Abdullah, passa a ser o novo príncipe.

Antes de fazer o anúncio, a TV estatal cortou a programação para exibir versos do Corão, o que significa que viria o anúncio de morte de uma autoridade real.

O rei Abdullah subiu ao trono em 2005 após a morte de seu irmão Fahd, mas dirigia o país de fato desde 1995. Nos últimos tempos, suas aparições em público se tornaram cada vez menos frequentes, motivo pelo qual foi frequentemente representado pelo príncipe Salman.

O rei Abdullah foi internado no dia 31 de dezembro em Riad para passar por exames médicos. No dia 2 de janeiro, a casa real anunciou que o monarca sofria de pneumonia e teve que ser entubado "para ajudá-lo a respirar". O comunicado desta quinta não especificou o motivo de sua morte.

Abdullah era visto como um reformista, ampliando a participação das mulheres na sociedade, e um um dos principais defensores da paz no Oriente Médio.

Governo
Seu objetivo na Arábia Saudita era modernizar o reino muçulmano para encarar o futuro. Um dos maiores exportadores de petróleo, a Arábia Saudita tem grandes disparidades em termos de riqueza e uma população jovem crescente que busca postos de trabalho, habitação e educação.
Rei Abdullah (esquerda), da Arábia Saudita, (L) e o Emir do Kuwait, xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah, durante reunião da Organização da Conferência Islâmica (OCI) em Meca. (Foto: Arábia Agência Press / Reuters)

Mais da metade da população atual de 20 milhões de habitantes tem menos de 25 anos. Para o rei Abdullah isso significava o esforço de possibilitar uma força de trabalho mais qualificada e abrir mais espaço para a participação das mulheres. Ele foi um forte apoiador de educação, criação de universidades e aumento de bolsas de intercâmbio de estudantes sauditas para o exterior.

Pela primeira vez, Abdullah deu assentos às mulheres no Conselho Sura, órgão não eleito que aconselha o rei e o governo. Ele prometeu que em 2015 as mulheres poderiam votar e disputar eleições para conselhos municipais, as únicas eleições realizadas no país. O rei saudita também nomeou a primeira vice-ministra mulher em 2009. Além disso, duas atletas mulheres competiram os Jogos Olímpicos pela primeira vez em 2012, e um pequeno grupo de mulheres recebeu licença para trabalhar como advogadas durante o seu governo.

Um dos seus projetos mais ambiciosos foi uma universidade no estilo Ocidental que leva o seu nome, a Universidade Rei Abdullah de Ciência e Tecnologia, aberta em 2009. Nela, homens e mulheres podem dividir a mesma sala e estudar dentro do mesmo campus, um importante ponto de partida em um país em que a conversa em público entre homens e mulheres pode levar a uma advertência da polícia.
O presidente egípcio, Adli Mansour, e o rei saudita Abdullah em encontro na Arábia Saudita (Foto: Reuters)

As mudanças promovidas por Abdullah podem parecer pequenas pela visão ocidental, mas tiveram poderosa ressonância interna, segundo avaliação da agência Associated Press. As cores foram permitidas nos trajes tipicamente pretos das mulheres; a TV estatal passou a transmitir música, proibida em décadas; e as feiras de livros abriram espaço para a participação de escritoras mulheres e, inclusive, livros proibidos.

Política externa
O rei Abdullah era um aliado poderoso dos Estados Unidos e se uniu a Washington na luta contra a al-Qaeda. Nos anos 2000, o rei convenceu a Liga Árabe a aprovar uma oferta de que os países árabes concordariam com a paz com Israel, se o país se retirasse das terras tomadas em 1967.

No ano seguinte, enviou seu embaixador a Washington para dizer ao então presidente George Bush que o apoio dos Estados Unidos a Israel era muito tendencioso e que a Arábia Saudita passaria a agir de acordo com seus próprios interesses. Alarmado com a perspectiva de um racha, Bush defendeu, pela primeira vez, a criação de um Estado palestino.

Em 2003, quando militantes da al-Qaeda deram início a uma onda de violência na Arábia Saudita, Abdullah os reprimiu duramente e, nos três anos seguintes, as forças de segurança conseguiram forçá-los a fugir para o vizinho Iêmen.

Mais recentemente, o rei saudita também levou o governo Obama a tomar uma posição mais dura contra o Irã e a frear os rebeldes que combatem na Síria para derrubar o presidente Bashar Assad.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, e Abdullah, rei da Arábia Saudita, se encontram (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)

Mais do que seus antecessores, Abdullah usou a influência de uma nação rica em petróleo para tentar moldar o Oriente Médio. Sua prioridade foi combater a influência do Irã xiita na região, sempre que o rival tentava fazer avanços. Junto com outros monarcas sunitas, ele se opôs ferrenhamente a onda de levantes pró-democracia no Oriente Médio e os via como uma ameaça à estabilidade.

Educação severa
Abdullah nasceu em 1924, um das dezenas de filhos do fundador da Arábia Saudita, o rei Abdul-Aziz Al Saud. Como todos os fihos de Abdul-Aziz, Abdullah teve educação rudimentar e severa, criado sob o islamismo tradicional. Um exemplo desta educação foram os três dias em que ficou na prisão quando jovem como uma punição de seu pai por não dar seu lugar a um visitante, uma violação da hospitalidade beduína.

Ele se sentia em casa em Nejd, o coração do deserto do reino, montando a cavalo e caçando com falcões.

Segundo a revista "Forbes", Abdullah tinha 22 filhos. De acordo com a Associated Press seriam mais de 30 filhos de cerca de uma dúzia de mulheres. No ano passado, duas das quatro filhas do rei Abdullah denunciaram estar presas pelo pai e postaram um vídeo no YouTube em que pediam ajuda à comunidade internacional para serem libertadas.
As princesas Sahar e Yawaher Bint Abdullah Al-Saud da Arábia Saudita denunciam condições as quais são submetidas pelo rei Abdullah em vídeo divulgado no YouTube (Foto: Reprodução/YouTube/Free The Princesses)

Sahar e Yawaher Bint Abdullah Al-Saud acusaram o pai de mantê-las encarceradas há 13 anos, junto com outras duas irmãs (Maha e Hala), em duas casas no interior do palácio real da cidade de Jidá. "Estamos destilando água do mar e comendo comida vencida", comentou Sahar no vídeo. "Estão nos matando de fome".

A ex-mulher do rei saudita, a jordaniana Alanoud Alfayez, de 57 anos, chegou a enviar uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pedindo ajuda para libertar suas quatro filhas.

AUTOR: G1/SP

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