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quarta-feira, 23 de abril de 2014

PRESO SUSPEITO DE COLOCAR FOGO EM ÔNIBUS EM OSASCO (SP)

O delegado Seccional de Osasco, Paulo Afonso Tucci, diz ter detido um jovem de 19 anos suspeito de ter participado do ataque a uma garagem da Auto Viação Urubupungá na madrugada desta terça-feira (22). Trinta e quatro ônibus foram queimados, deixando prejuízo estimado pela empresa de pelo menos R$ 10 milhões.

rua águas da prata
A Polícia Civil diz que o preso, Edilson Almeida Silva, é irmão gêmeo de um traficante morto na região. O ataque teria sido uma represália ao assassinato cometido na segunda-feira (21). Segundo o delegado, Silva será indiciado por incêndio, associação criminosa, dano qualificado ao patrimônio e lesão corporal.

Segundo os policiais, o rapaz detido negou ter participado do ataque na garagem de ônibus.

"Esse rapaz foi reconhecido pelas pessoas que estavam na garagem trabalhando e há uma filmagem que mostra o acusado caminhado em direção aos ônibus", disse Tucci.

Outras cinco pessoas continuam sendo procuradas. "Estamos com o bolo pronto, falta colocar o recheio, o chantilly", disse o delegado ao se referir à busca pelos outros envolvidos.
A ação
Pelo menos seis criminosos fortemente armados, entre eles dois adolescentes, invadiram a garagem de apoio da viação, renderam um manobrista e um segurança e atearam fogo aos ônibus. O prejuízo de R$ 10 milhões não inclui o reparo da infraestrutura da garagem.

Ao todo, 23 veículos ficaram totalmente destruídos e 11 foram parcialmente atingidos pelas chamas no pátio que fica na Rua Águas da Prata, que é uma travessa da Avenida Presidente Médici. É o maior ataque a ônibus de São Paulo.

Horas antes, dois coletivos da empresa, que opera 21 linhas em Osasco, sofreram tentativas de ataque, mas não chegaram a ficar danificados, segundo a empresa. Inicialmente, a Viação Urubupungá informou que, no total, 35 ônibus foram atingidos, mas depois revisou para 34 o total de ônibus afetados.

De acordo com o gerente-geral da Urubupungá, Miguel de Albuquerque, pelo menos um dos funcionários foi obrigado pelos criminosos a ajudar a incendiar os coletivos.

“Todos estavam fortemente armados. Eles renderam os funcionários. Dois garotos, que a gente acredita seren menores, foram jogando [o combustível nos ônibus]. Como os menores estavam demorando, eles mandaram dois irem lá jogar também. A ação demorou de três a quatro minutos”, afirmou.
Delegado Tucci e coronel Dimitrius acompanharam desdobramentos do ataque (Foto: Sttela Vasco/G1)

Um funcionário que estava em outra garagem e foi chamado a prestar socorro contou que um dos colegas, obrigado a atear fogo nos coletivos, chegou a ter uma queimadura no braço.

Assassinato de traficante
O delegado Seccional de Osasco, Paulo Afonso Tucci, que investiga o caso, investigava a morte de um suspeito de tráfico de drogas, de 19 anos, ocorrida na segunda-feira (21), como motivação para o ataque à garagem.

A morte aconteceu por volta das 19h30 em uma praça no bairro Parque Oeste. Dois homens armados, que estavam em um Astra, deram 24 disparos no suspeito, que tinha passagens pela polícia por tráfico de drogas. O delegado espera solicitar até o fim da tarde desta terça-feira a prisão provisória dos suspeitos à Justiça.

O coronel da PM Dimitrius, comandante do policiamento de área da região de Osasco, afirmou que 3 mil policiais estão intensificando o policiamento nas garagens e pontos finais da cidade. Segundo ele, no boletim de ocorrência consta que entre os suspeitos de terem participado do incêndio dos ônibus estão cinco pessoas entre 17 e 20 anos.

Em entrevista ao G1 no fim de janeiro, o secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, Fernando Grella, afirmou que a sequência de ônibus queimados virou estratégia de grupos para dar visibilidade a protestos com diferentes motivações. Grella disse também que apura se as ocorrências são provocadas pela ação de manifestantes ou se há ligação com facções criminosas organizadas.

Os coletivos incendiados da Auto Viação Urubupungá representam 20% da frota de 178 veículos da empresa, que atende 21 linhas da cidade, a maioria na Zona Norte da capital e em Osasco – cidade atendida também pela Viação Osasco.

Os ônibus da empresa estão circulando com intervalos maiores, e passageiros lotaram os pontos da cidade nesta terça-feira.
Edilson Almeida Silva (à esq.) é levado para carceragem (Foto: Alex Falcão/Futura Press/Estadão Conteúdo)

Segurança

A garagem não tinha sistema de videomonitoramento, mas todos os ônibus estavam equipados com câmeras de segurança. A empresa ainda avalia as condições dos aparelhos de ônibus que não ficaram totalmente destruídos para tentar localizar imagens que ajudem na identificação de suspeitos. Os coletivos que ficaram parcialmente danificados tiveram problemas principalmente nos retrovisores e no para-brisa, onde fica o equipamento que registra as imagens.

Nesta manhã, a empresa organizava uma reunião para discutir as próximas iniciativas a serem tomadas para suprir a necessidade de ônibus em circulação. Coletivos que estavam em manutenção preventiva e ônibus extras foram para as ruas. A empresa, que atua em oito municípios da região metropolitana de São Paulo, avalia a necessidade de remanejar veículos de outros pontos para Osasco.

De acordo com Albuquerque, a empresa não havia recibo ameaça de ataque. “Existem situações pontuais em alguns bairros no que diz respeito à queima de veículos. É algo que a gente vem sofrendo desde 2006. Desde então, no nosso grupo, a estatística ultrapassa 110 veículos que já foram queimados.”

Outros ataques
Entre a noite de segunda-feira e a madrugada desta terça, mais três ônibus foram incendiados em outros pontos de São Paulo. Dois dos ataques aconteceram na região de Ermelino Matarazzo, na Zona Leste.

O terceiro ônibus foi queimado na Avenida Coronel Sezefredo Fagundes, no Tremembé, na Zona Norte, durante um protesto contra a falta d'água na região. Segundo a Polícia Militar, cerca de 50 pessoas incendiaram o coletivo, que fazia a linha Cachoeira-Santana. Ninguém ficou ferido.

Um levantamento feito pela TV Globo mostra que, em 2014, 364 ônibus foram atacados na capital paulista e em municípios da Grande São Paulo, sendo 115 deles incendiados.

Até janeiro
O número de ônibus queimados em janeiro na capital paulista já corresponde a mais da metade dos casos ocorridos no ano passado na cidade, segundo dados da São Paulo Transportes (SPTrans). Apenas entre 1° de janeiro e 5 de fevereiro, foram 35 coletivos incendiados por diversas causas, contra 65 em 2013, o que corresponde a 54% do número de casos registrados em todo o ano passado.

De acordo com levantamento do G1, os incêndios ocorreram por fatores como: morte de moradores (oito), enchentes (sete), proibição de bailes funk, falta d'água, reintegração de posse, prisão de integrantes das comunidades, abordagens policiais e manifestações de ambulantes.

Em 2013, a maioria das ocorrências estava ligada a mortes nos bairros, como a do estudante Douglas Rodrigues, de 17 anos, que morreu após ter sido baleado por um policial militar em outubro, perto da rua onde morava, na Zona Norte da capital paulista.
Ônibus da viação Urubupungá, em Osasco, na Grande São Paulo, foram incendiados na madrugada desta terça-feira (22) (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Trinta e cinco ônibus da viação Urubupungá, em Osasco, na Grande São Paulo, foram incendiados na madrugada desta terça-feira (22). Trinta e quatro estavam na garagem da empresa e um foi atacado quando estava na rua (Foto: Mario Ângelo/Sigmapress/Estadão Conteúdo)

AUTOR: G1/SP

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