ESTUDANTES DENUNCIAM TRANSPORTES PRECÁRIOS DO INTERIOR A FORTALEZA (CE)

Ônibus são usados por estudantes de outros municípios que têm aulas em instituições de ensino superior em Fortaleza/ EVILÁZIO BEZERRA

A rotina dos estudantes que foram vítimas do acidente de ônibus na rodovia Mogi-Bertioga, em São Paulo, é semelhante à de diversos alunos que fazem a migração pendular diariamente no Ceará. Em ônibus disponibilizados, na maioria das vezes, pelas prefeituras do interior do Estado, universitários seguem diariamente a Fortaleza para terem acesso às faculdades na Capital — e até mesmo ao trabalho. 

Para muitos dos estudantes, o transporte gratuito é fundamental para a continuidade do curso. No entanto, nem faculdades, nem prefeituras se responsabilizam pelo translado.

“Eu sinto que uma tragédia como essa poderia facilmente ocorrer com alunos do interior do Ceará”, afirmou Guilherme Azevedo, 20. Ele mora no município de Cascavel e cursa Direito na Universidade de Fortaleza (Unifor). 

O estudante é presidente da Associação dos Universitários do município, que reuniu alunos para contratar o sistema de translado.

Guilherme denuncia que a situação atual é crítica e que os ônibus estão em situação precária. “Já ocorreu de quebrar o eixo do ônibus, de os alunos ficarem parados na estrada aguardando o transporte ser consertado, e há também o problema de alguns motoristas não terem carteira assinada”, conta.

De acordo com ele, a associação possui convênio com a Prefeitura de Cascavel, que cede parte do pagamento das 12 frotas que saem diariamente do município. A outra metade é paga pelos estudantes. “Assumimos recentemente a gestão da associação. A ideia é que a partir de agosto a gente comece a reorganizar as frotas e cobrar melhores condições para as empresas contratadas para realizar o transporte”, afirmou.

Fiscalizações

Cursando o primeiro semestre de Engenharia Civil, Yasmim Teófilo, 18, vem todos os dias de Pacajus para a Faculdade Maurício de Nassau. De acordo com ela, somente dois ônibus eram disponibilizados anteriormente pela Prefeitura. 

“Os ônibus eram parados diversas vezes em fiscalizações da Polícia Rodoviária Federal por causa da superlotação. Aí foi disponibilizado mais um e a lotação melhorou um pouco. Ainda assim, vem gente de pé”. Segundo a Secretaria da Educação de Pacajus, o transporte de alunos é terceirizado.

O serviço de transporte é fator determinante para a formação de muitos universitários. É o caso de Douglas Lopes, 20. Ele segue de Horizonte para a Capital, onde cursa Publicidade e Propaganda. Segundo ele, o ônibus universitário incentiva o contato dos jovens com a academia, já que, na cidade onde mora, não há instituições de ensino superior.

Outro fator é a economia. A passagem de Horizonte para Fortaleza custa R$ 5,50. Com o transporte, disponibilizado de forma gratuita pela prefeitura do local, não há despesa com o deslocamento. Contudo, o universitário diz que, mesmo com sete coletivos, entre ônibus e micro-ônibus, não há espaço para todo mundo.

AUTOR: O POVO