No trajeto para os estádios, as torcidas protagonizam cenas de muita violência. FOTO: FABIANE DE PAULA
A exemplo do tráfico de drogas e dos assassinatos, a rivalidade entre torcidas organizadas tem provocado um resultado nefasto em todo o Brasil. A intolerância entre os membros dessas facções, aliada a outros delitos como tráfico de drogas e roubos, têm resultado em uma onda de violência nos últimos anos que parece não ter fim. Levantamento feito pelo Diário do Nordeste, na semana passada, mostra que, em cinco anos, cerca de 20 pessoas, a maioria jovens e adolescentes, foram mortos em Fortaleza em decorrência deste motivo.
O mais recente caso, e que ainda está sob investigação da Polícia Civil, ocorreu há pouco mais de uma semana, precisamente na tarde do último dia 14, mais um domingo de Clássico-Rei, quando as equipes do Ceará Sporting Club e Fortaleza Esporte Clube jogaram na Arena Castelão em partida válida pelo Campeonato Cearense de Futebol. Momentos antes do começo da partida, um tiroteio entre torcedores das duas agremiações teve um desfecho trágico. Dois deles acabaram mortos.
Infiltrados
"Na verdade, não são torcedores, são marginais infiltrados dentro dessas torcidas organizadas, onde, já ficou constatado, há muitas pessoas envolvidas em tráfico de drogas, assaltos, roubo de carros e outros delitos", explica o delegado Jairo Façanha Pequeno, diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE). Segundo ele, o caso ocorrido no domingo, dia 14, ainda está sob investigação, e, pelo menos, duas pessoas apontadas como suspeitas do caso já foram detidas, uma delas, minutos depois do crime que teve como vítimas Glauber de Sousa Damasceno, 30; e Felipe Mesquita de Matos. "Eles (as vítimas) foram mortos com tiros na cabeça, é possível que os motivos desses crimes sejam outros já que há características de uma execução sumária, pois foram tiros na cabeça".
Conforme o levantamento feito pela Reportagem, os assassinatos entre torcedores rivais vêm se arrastando ao longo dos anos. Em 13 de agosto de 2008, o adolescente Jéfferson Cabral da Silva, 17 anos, foi morto dentro de um ônibus que, transportava de volta para o Rio Grande do Norte torcedores do América de Natal, cujo time tinha havia jogado, em Fortaleza, contra o Ceará Sporting. O crime ocorreu quando o coletivo, que trafegava pela CE-040, em Aquiraz, foi interceptado por um carro onde estavam os atiradores.
Somente em 2008, foram seis pessoas mortas na Grande Fortaleza em decorrência da rivalidade de torcidas. Em 2012, mais 12 mortos, conforme registros da Polícia e da Imprensa.
Ano a ano, os confrontos armados vêm se tornando uma trágica rotina e muitos dos crimes ocorrem longe dos estádios e em dias em que não há jogos.
Juizado pune 60 adolescentes
Na última partida disputada entre as equipes do Fortaleza e do Ceará o número de apreensão de adolescentes infratores bateu o recorde. "Nunca se viu tantos garotos aqui, em consequência de um jogo", disse o juiz Manuel Clístenes de Façanha e Gonçalves, juiz titular da 5ª Vara de Execuções da Infância e da Juventude de Fortaleza.
Ao todo, 60 menores foram apreendidos pela Polícia, em tumultos diversos. Todos receberam como punição a medida de liberdade assistida e deverão ter seu comportamento acompanhado por equipes do Juizado por seis meses. Se neste período o menor se envolver em outros delitos, poderá ser internado. A punição foi baseada no artigo 41-B, do Estatuto do Torcedor.
A exemplo do tráfico de drogas e dos assassinatos, a rivalidade entre torcidas organizadas tem provocado um resultado nefasto em todo o Brasil. A intolerância entre os membros dessas facções, aliada a outros delitos como tráfico de drogas e roubos, têm resultado em uma onda de violência nos últimos anos que parece não ter fim. Levantamento feito pelo Diário do Nordeste, na semana passada, mostra que, em cinco anos, cerca de 20 pessoas, a maioria jovens e adolescentes, foram mortos em Fortaleza em decorrência deste motivo.
O mais recente caso, e que ainda está sob investigação da Polícia Civil, ocorreu há pouco mais de uma semana, precisamente na tarde do último dia 14, mais um domingo de Clássico-Rei, quando as equipes do Ceará Sporting Club e Fortaleza Esporte Clube jogaram na Arena Castelão em partida válida pelo Campeonato Cearense de Futebol. Momentos antes do começo da partida, um tiroteio entre torcedores das duas agremiações teve um desfecho trágico. Dois deles acabaram mortos.
Infiltrados
"Na verdade, não são torcedores, são marginais infiltrados dentro dessas torcidas organizadas, onde, já ficou constatado, há muitas pessoas envolvidas em tráfico de drogas, assaltos, roubo de carros e outros delitos", explica o delegado Jairo Façanha Pequeno, diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE). Segundo ele, o caso ocorrido no domingo, dia 14, ainda está sob investigação, e, pelo menos, duas pessoas apontadas como suspeitas do caso já foram detidas, uma delas, minutos depois do crime que teve como vítimas Glauber de Sousa Damasceno, 30; e Felipe Mesquita de Matos. "Eles (as vítimas) foram mortos com tiros na cabeça, é possível que os motivos desses crimes sejam outros já que há características de uma execução sumária, pois foram tiros na cabeça".
Conforme o levantamento feito pela Reportagem, os assassinatos entre torcedores rivais vêm se arrastando ao longo dos anos. Em 13 de agosto de 2008, o adolescente Jéfferson Cabral da Silva, 17 anos, foi morto dentro de um ônibus que, transportava de volta para o Rio Grande do Norte torcedores do América de Natal, cujo time tinha havia jogado, em Fortaleza, contra o Ceará Sporting. O crime ocorreu quando o coletivo, que trafegava pela CE-040, em Aquiraz, foi interceptado por um carro onde estavam os atiradores.
Somente em 2008, foram seis pessoas mortas na Grande Fortaleza em decorrência da rivalidade de torcidas. Em 2012, mais 12 mortos, conforme registros da Polícia e da Imprensa.
Ano a ano, os confrontos armados vêm se tornando uma trágica rotina e muitos dos crimes ocorrem longe dos estádios e em dias em que não há jogos.
Juizado pune 60 adolescentes
Na última partida disputada entre as equipes do Fortaleza e do Ceará o número de apreensão de adolescentes infratores bateu o recorde. "Nunca se viu tantos garotos aqui, em consequência de um jogo", disse o juiz Manuel Clístenes de Façanha e Gonçalves, juiz titular da 5ª Vara de Execuções da Infância e da Juventude de Fortaleza.
Ao todo, 60 menores foram apreendidos pela Polícia, em tumultos diversos. Todos receberam como punição a medida de liberdade assistida e deverão ter seu comportamento acompanhado por equipes do Juizado por seis meses. Se neste período o menor se envolver em outros delitos, poderá ser internado. A punição foi baseada no artigo 41-B, do Estatuto do Torcedor.
Na última segunda-feira, os adolescentes apreendidos pela Polícia, quando praticavam baderna e agressões, participaram de uma audiência no Juizado. Todos receberam como punição a medida socioeducativa de liberdade assistida. FOTO: KIKO SILVA
"Não considero o estádio um lugar propício para um adolescente desacompanhado. Do jeito que as coisas estão, quem vai para um jogo do Ceará e Fortaleza está correndo risco de morte", considerou. Nenhum dos menores apreendidos estava na companhia de um responsável no dia do Clássico-Rei.
Manuel Clístenes acredita que a entrada nestes espaços precisa ser repensada. Para ele, a permissão para que um adolescente entre sozinho em um estádio, considerando a situação atual de violência, vai contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "Como permitir que um adolescente participe de um evento onde, em um possível tumulto, ele corre riscos evidentes?", questiona o magistrado.
O juiz considera ainda, que as torcidas organizadas são espaços totalmente inóspitos para menores de 18 anos. "Não vejo motivo para este tipo de entidade existir. Mesmo porque elas estimulam fanatismo, que acaba gerando violência, baseada na intolerância contra quem torce pelo outro lado".
De acordo com informações da 5ª Vara, no Clássico-Rei anterior, no dia 17 de março, em um tumulto generalizado causado por torcedores, um adolescente foi atingido por uma pedrada e perdeu a visão de um dos olhos. "A cada jogo percebo que a situação se agrava", afirmou o juiz.
O QUE ELES PENSAM
Organizadas devem ser extintas?
"Não vejo motivo para este tipo de entidade existir. Mesmo porque elas estimulam o fanatismo, que acaba gerando violência baseada na intolerância contra quem torce pelo outro lado A cada jogo, percebo que a situação se agrava. Não considero o estádio um lugar propício para um adolescente frequentar desacompanhado. Eles correm risco até de morte."
Manuel Clístenes Gonçalves
Juiz da 5ª Vara da Infância e da Juventude
"Há muitos marginais no meio dessas torcidas organizadas. E durante os tumultos, alguns deles aproveitam a situação para mostrar aos demais que são os maiorais. Para se tornar líder entre eles, comandam os roubos, as agressões e deixam as pessoas lesionadas. A lei tem punição para tudo, mas o fiel cumprimento dela é que é difícil de ser executado e fiscalizado."
Domingos Sávio Amorim
Promotor de Justiça da 9ª Vara Criminal
"Nem a própria Justiça conseguiu acabar com a violência que essas torcidas organizadas praticam. São entidades que desvirtuam totalmente suas finalidades, mas será difícil extingui-las. Elas gozam de algumas benesses, como ingressos gratuitos dos clubes. O que há, na verdade, é um total desvirtuamento. Muitos utilizam as torcidas organizadas para cometer delitos."
Jairo Façanha Pequeno
Diretor do Depto. de Polícia Especializada
Leis não intimidam os baderneiros e criminosos
Nem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), nem o Estatuto do Torcedor e nem mesmo o Código Penal Brasileiro parecem intimidar os baderneiros infiltrados em torcidas organizadas brasileiras. Em Fortaleza, a situação não é diferente. Muitos aproveitam as organizadas como ´fachada´ para o cometimento de crimes graves, como o tráfico de entorpecentes.
"Não considero o estádio um lugar propício para um adolescente desacompanhado. Do jeito que as coisas estão, quem vai para um jogo do Ceará e Fortaleza está correndo risco de morte", considerou. Nenhum dos menores apreendidos estava na companhia de um responsável no dia do Clássico-Rei.
Manuel Clístenes acredita que a entrada nestes espaços precisa ser repensada. Para ele, a permissão para que um adolescente entre sozinho em um estádio, considerando a situação atual de violência, vai contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "Como permitir que um adolescente participe de um evento onde, em um possível tumulto, ele corre riscos evidentes?", questiona o magistrado.
O juiz considera ainda, que as torcidas organizadas são espaços totalmente inóspitos para menores de 18 anos. "Não vejo motivo para este tipo de entidade existir. Mesmo porque elas estimulam fanatismo, que acaba gerando violência, baseada na intolerância contra quem torce pelo outro lado".
De acordo com informações da 5ª Vara, no Clássico-Rei anterior, no dia 17 de março, em um tumulto generalizado causado por torcedores, um adolescente foi atingido por uma pedrada e perdeu a visão de um dos olhos. "A cada jogo percebo que a situação se agrava", afirmou o juiz.
O QUE ELES PENSAM
Organizadas devem ser extintas?
"Não vejo motivo para este tipo de entidade existir. Mesmo porque elas estimulam o fanatismo, que acaba gerando violência baseada na intolerância contra quem torce pelo outro lado A cada jogo, percebo que a situação se agrava. Não considero o estádio um lugar propício para um adolescente frequentar desacompanhado. Eles correm risco até de morte."
Manuel Clístenes Gonçalves
Juiz da 5ª Vara da Infância e da Juventude
"Há muitos marginais no meio dessas torcidas organizadas. E durante os tumultos, alguns deles aproveitam a situação para mostrar aos demais que são os maiorais. Para se tornar líder entre eles, comandam os roubos, as agressões e deixam as pessoas lesionadas. A lei tem punição para tudo, mas o fiel cumprimento dela é que é difícil de ser executado e fiscalizado."
Domingos Sávio Amorim
Promotor de Justiça da 9ª Vara Criminal
"Nem a própria Justiça conseguiu acabar com a violência que essas torcidas organizadas praticam. São entidades que desvirtuam totalmente suas finalidades, mas será difícil extingui-las. Elas gozam de algumas benesses, como ingressos gratuitos dos clubes. O que há, na verdade, é um total desvirtuamento. Muitos utilizam as torcidas organizadas para cometer delitos."
Jairo Façanha Pequeno
Diretor do Depto. de Polícia Especializada
Leis não intimidam os baderneiros e criminosos
Nem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), nem o Estatuto do Torcedor e nem mesmo o Código Penal Brasileiro parecem intimidar os baderneiros infiltrados em torcidas organizadas brasileiras. Em Fortaleza, a situação não é diferente. Muitos aproveitam as organizadas como ´fachada´ para o cometimento de crimes graves, como o tráfico de entorpecentes.
Flagrados praticando baderna, os torcedores passam apenas algumas horas detidos. FOTO: VALESKA SANTIAGO
"Existe hoje na sociedade brasileira um sentimento de impunidade. No caso das torcidas, muitos incidentes ocorrem porque seus integrantes são envolvidos em delitos em seus bairros e quando encontram seus rivais a caminho ou na volta dos estádios, essa animosidade se aflora ainda mais. A cada jogo a gente se depara com situações gravíssimas", explica o promotor Domingos Sávio Amorim, há 20 anos no Ministério Público Estadual e há 15 anos como titular da Promotoria da 9ª Vara Criminal de Fortaleza.
Segundo ele, o Estatuto da Criança e do Adolescente impõe que a Justiça finalize todo o processo em 45 dias e isto nem sempre é possível por conta da alta demanda de procedimentos. No caso dos adultos, estes se beneficiam com o ´excesso de prazo´.
AUTOR: DN
"Existe hoje na sociedade brasileira um sentimento de impunidade. No caso das torcidas, muitos incidentes ocorrem porque seus integrantes são envolvidos em delitos em seus bairros e quando encontram seus rivais a caminho ou na volta dos estádios, essa animosidade se aflora ainda mais. A cada jogo a gente se depara com situações gravíssimas", explica o promotor Domingos Sávio Amorim, há 20 anos no Ministério Público Estadual e há 15 anos como titular da Promotoria da 9ª Vara Criminal de Fortaleza.
Segundo ele, o Estatuto da Criança e do Adolescente impõe que a Justiça finalize todo o processo em 45 dias e isto nem sempre é possível por conta da alta demanda de procedimentos. No caso dos adultos, estes se beneficiam com o ´excesso de prazo´.
AUTOR: DN
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