Os ataques a ônibus ocorridos nos últimos dias teriam sido ordenados por um detento que está recolhido na Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) II, em Itaitinga. O preso teria ficado revoltado, porque sua companheira quase foi atropelada na BR-116, quando atravessava a rodovia para visitá-lo e os pedidos para instalação de uma passarela não teriam sido atendidos pelas autoridades.
A informação foi dada por uma fonte ligada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O servidor disse que o interno agiu com ajuda de um colega de cela e de dois jovens que estão soltos, mas já foram identificados pela Polícia.
Conforme a fonte, o caso de 'quase atropelamento' teria motivado o pedido de uma passarela por parte dos detentos à direção. A demanda não teria sido atendida e os dois internos consideraram o fato um "descaso" e decidiram queimar os ônibus.
Além disto, uma feirinha que funcionava em frente ao Complexo Penitenciário foi transferida para outro lugar e isto também teria aumentado a revolta no interior das unidades. Procurado pela reportagem, o titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Raphael Villarinho, que está investigando os incêndios, disse que já identificou o detento que estaria por trás dos ataques a ônibus. "Ele realmente está na CPPL II. É um criminoso de apenas 19 anos, abusado, audacioso. Já responde por homicídio, roubo, receptação, desacato, adulteração de sinal identificador de veículo e porte ilegal de arma", afirmou.
Raphael Villarinho disse ainda que o comparsa do suposto incendiário, que também está na CPPL II, ainda não foi identificado. "Já temos o nome de um dos detentos e das duas pessoas que estavam agindo a mando dele aqui fora. Equipes das polícias Civil e Militar estão em diligências ininterruptas para prender esta dupla", destacou o titular da Delegacia de Roubos e Furtos.
O delegado salientou que todos os envolvidos serão autuados por incêndio, associação criminosa e tentativa de homicídio, já que um motorista que foi vítima de um dos ataques sofreu queimaduras graves.
Villarinho informou que Francinei Nobre da Silva, o 'Gangão', não articulou os ataques anteriores à sua prisão, ocorrida na sexta-feira, dia 13. No entanto, existe a possibilidade de que os três coletivos incendiados depois da captura dele, tenham ocorrido em retaliação à detenção.
"O 'Gangão' comandou o tráfico do Bom Jardim por mais de 10 anos, é articulado, perigoso. Uma das nossas linhas de investigação é que os outros ônibus tenham sido queimados, em represália à prisão dele", disse.
A reportagem tentou contato com o advogado de Francinei Nobre da Silva, mas ele não atendeu as ligações.
O delegado Villarinho declarou também que o vídeo que circulou nas redes sociais no últimos dias, gravado na CPPL IV, em que detentos reclamam da situação da unidade, não tem relação nenhuma com os ataques. "Estas reclamações são recorrentes em presídios de todo o Brasil, não se pode achar que todo mundo que reivindica melhorias nas prisões, incendeia ônibus", afirmou.
Sejus
A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) informou que desconhece o caso em que a visitante quase foi atropelada e teria gerado a insatisfação do detento. Sobre a possível participação de internos na queima dos ônibus, disse que as investigações estão a cargo da Secretaria da Segurança Pública (SSPDS).
A Sejus disse ainda que está implantando a Guarda Penitenciária, para que esta assuma o controle da entrada nas unidades. Em fevereiro, a Guarda assumiu o Complexo Itaitinga II, onde estão as CPPLs II, III e IV e deslocou temporariamente os vendedores ambulantes para o Complexo Aquiraz.
"Nesse período de ajustes, quatro ônibus ficarão fazendo o deslocamento das visitas de um complexo para o outro. A medida é uma forma de garantir a segurança das pessoas na travessia da rodovia, assegurando que sejam tratadas de forma digna", declarou a Sejus. A Instituição disse que a organização do acesso e da ocupação da frente do complexo se iniciou em fevereiro, sendo, portanto, anterior à queima dos ônibus.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou por meio de seu Núcleo de Comunicação (Nucom) que o trecho situado nas proximidades do Complexo Penitenciário é inexpressivo quanto à incidência de acidentes. "Acontecem casos pontuais, mas nada que possa ser considerado como um ponto problemático".
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que não há previsão de implantação de passarelas no local. Segundo o órgão, um equipamento já instalado de forma provisória a cerca de um quilômetro dos presídios, será transformado em permanente.
AUTOR: DN
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