As chuvas que banham o Estado representam, antes de tudo, esperança. (Foto: Honório Barbosa)
Cinco dias após as comemorações em homenagem a São José, padroeiro do Ceará, as preces dos devotos demonstram finalmente serem atendidas. Com as nuvens carregadas, cobrindo todo o Estado com mais frequência, o número de lavouras está começando a se multiplicar no campo. Quem vive nas comunidades rurais comemora e está acordando cedo para brocar a terra e cuidar do roçado. Para quem tem fé, o santo protetor está contrariando as previsões pessimistas sobre a quadra chuvosa.
Na região Centro-Sul, os agricultores voltaram ao campo para o cultivo de subsistência, milho e feijão. Em algumas áreas, os pés já brotaram e cresceram com as últimas chuvas que banham o sertão cearense. Na localidade de Baú, o agricultor Raimundo Vieira de Brito fez o plantio de quatro hectares de milho consorciado com feijão, no inicio deste mês, mas no último dia 19, data em que se comemora São José, plantou mais um hectare. "Estou animado com o crescimento da lavoura e espero que as chuvas não faltem e terei uma boa safra", disse.
O agricultor, Francisco Barbosa de Oliveira, mais conhecido por Nena, plantou seis hectares de milho e dois de feijão. "No ano passado, só colhi um quarto da safra, mas, neste ano, estou esperançoso de que a chuva vai ser boa para a agricultura", disse. "Tenho fé de que não terei prejuízo. Quem plantou vai ter safra garantida". Em alguns municípios da região, a falta de chuva nos últimos oito dias já preocupava os produtores rurais. "As chuvas estão irregulares, localizadas", disse o agricultor, Paulino Bezerra. "Acredito que até o fim deste mês e em abril teremos boas chuvas".
Estragos
Apesar da alegria com as mudanças pluviométricas favoráveis aos agricultores, em algumas áreas urbanas, como Quixadá, embora bem-vinda, a chuva começou a trazer transtornos. Pouco mais de meia-hora e cerca de 82 mm foram suficientes para deixar várias áreas residenciais alagadas. Moradores da Avenida José Caetano, onde o problema do escoamento das águas pluviais se arrasta há décadas, voltaram a reclamar. Mais uma vez o terminal rodoviário e as ruas do entorno ficaram alagadas.
Noutro ponto da Cidade, onde estão localizadas a unidade regional do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), um posto de saúde e a residência universitária da Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc), a rua ficou intrafegável por algumas horas. As viaturas do Samu não puderam adentrar na unidade, e os vizinhos, 20 estudantes da residência coletiva da Feclesc, foram obrigados a saírem às pressas. Rapidamente a água invadiu os cômodos, contou a estudante Rayane Fernandes. Ela aproveitou para solicitar à Prefeitura de Quixadá a limpeza dos bueiros, a fim de evitar mais transtornos e prejuízos com as próximas chuvas.
A titular da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma), Verônica Costa, justificou terem sido realizados serviços de limpeza nas valas e galerias pluviais das áreas consideradas críticas.
As chuvas caídas durante o último fim de semana também trouxeram transtornos e aborrecimentos para milhares de pessoas que residem em pontos críticos de Juazeiro do Norte, na região do Cariri. Por causa do lixo acumulado em bueiros e bocas de lobo, bem como devido à falta de sistemas de drenagem na maioria dos bairros periféricos de Juazeiro do Norte dezenas de ruas ficaram alagadas durante a madrugada de sábado para domingo e de domingo para segunda-feira.
Na Avenida Padre Cícero, que liga o município à cidade de Crato, houve congestionamento de veículos devido ao surgimento de uma verdadeira "lagoa" nas imediações da fábrica Singer. Os motoristas que tentaram atravessar o local tiveram seus veículos invadidos pelas águas.
Nos bairros Tiradentes, São José, Novo Juazeiro, Betolândia Lagoa Seca e em alguns pontos do Centro, a força das águas acabou destruindo parte da pista de rolamento. Calçadas também acabaram danificadas. Em muitas vias públicas surgiram buracos de grandes proporções. Um trecho da Avenida Aílton Gomes, nas proximidades do Mercado do Pirajá, ficou tomado por pedras trazidas pelas chuvas.
"Qualquer chuva que caia em Juazeiro do Norte acaba prejudicando a vida da população. A cidade, na verdade, mais parece uma pastilha de Sonrisal. Começa a chover e ela se desfaz imediatamente", ironizou o comerciante Francisco das Chagas Soares, que teve seu estabelecimento invadido pelas águas que retornaram de um bueiro próximo.
Deslizamentos
As chuvas também foram apontadas, por moradores de Itapajé, na região Norte, como responsáveis pelo desmoronamento de pedras em trecho da BR-222. O fato ocorreu entre os quilômetros 117 e 119. O trecho, que atualmente passa por reformas de alargamento e aprofundamento, passou por uma série de explosões, necessárias à execução da obra realizada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Após uma forte chuva ocorrida na madrugada do domingo (22), as pedras rolaram para a pista, interditando parte da via, no sentido Fortaleza-Sobral.
Osmar Bastos, que sempre trafega pelo local, se diz preocupado, porque "isso se tornou um risco para quem passa por aqui. Existe o temor que numa precipitação maior de chuva venha a acontecer uma queda maior de pedras nesse trecho", disse.
De acordo com Robert Alexandre de Sousa, encarregado da obra, "logo no domingo foram tomadas todas as providências. O espaço foi logo desobstruído, as pedras retiradas, e nesta segunda-feira, colocamos uma equipe completa para o trabalho. A empresa, que presta esse serviço para o DNIT, vai seguir com o monitoramento. Só não posso garantir que mais desmoronamentos não ocorram, até por conta das chuvas que têm caído na região", afirmou.
De acordo com o DNIT, em nota "o bloqueio da via durou pouco tempo. A empresa contratada segue realizando os serviços necessários para que seja garantida a segurança no local. Também foram providenciadas sinalizações verticais de advertência (Perigo de Deslizamento de Rocha). Os técnicos estão analisando a causa do fenômeno ocorrido para evitar futuros transtornos. Uma equipe de geólogos já está sendo enviada ao local para realizar estudos.
AUTOR: DN
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