Fortaleza teve aumento de pelo menos 8% no número de homicídios em 2024, na comparação com 2023, segundo dados parciais Foto: Thiago Gadelha
O ano de 2024 terminou com aumento de homicídios no Ceará, na comparação com 2023. Conforme dados parciais disponibilizados no site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), o Estado registrou pelo menos 3.151 mortes violentas no ano passado, até o dia 20 de dezembro (números dos últimos 11 dias do ano ainda não foram divulgados). Os anos de 2023 e 2022 terminaram com 2.970 homicídios, cada.
O crescimento de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) registrado no último ano, na comparação com o ano anterior, é de pelo menos 6% - mas esse número irá aumentar com a atualização dos dados de dezembro, que devem ser divulgados pela SSPDS nos próximos dias. Os CVLIs abrangem homicídios, feminicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de morte.
Um dos principais crimes ocorridos no ano foi a Chacina de Viçosa do Ceará, que deixou oito mortos e dois feridos, em uma praça no Município que fica na Região Norte do Estado, na madrugada do dia 20 de junho último. Criminosos abordaram as vítimas, que se encontravam no local, mandaram elas ficarem enfileiradas e efetuaram os disparos. Pelo menos dois suspeitos de participarem do crime - inclusive o mandante - foram presos pela Polícia, em outros estados brasileiros, enquanto fugiam.
Os homicídios também aumentaram em Fortaleza. Em 2024, até o dia 20 de dezembro, foram 801 Crimes Violentos Letais Intencionais. No ano inteiro de 2023, foram 738 mortes violentas na Capital. O aumento foi de pelo menos 8,5% - número que também irá aumentar, com a consolidação dos dados dos últimos dias do ano.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará destacou que "mantém, ininterruptamente, seus esforços direcionados à redução dos indicadores de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) em todo o território cearense. A SSPDS tem desenvolvido diversas iniciativas com o objetivo de reforçar a atuação das Forças de Segurança no combate às mortes violentas em todas as regiões do Ceará".
As estatísticas da Secretaria da Segurança Pública também mostram que o Estado voltou a ter aumento de homicídios após três anos. Em 2021, houve uma queda de 18,3% nas mores violentas, na comparação com o ano anterior. Em 2022, a redução foi de 9,9%. E em 2023, o índice estagnou.
O último aumento de CVLIs em um ano havia sido registrado em 2020, que fechou com 4.039 mortes violentas. O crescimento foi de 78,9%, na comparação com 2019, que teve 2.257 crimes.
O ano de 2019 teve o menor número de homicídios no Ceará, nos últimos 10 anos, segundo os dados da SSPDS. Já o ano mais violento nesse período foi 2017, com o recorde de 5.133 Crimes Violentos Letais Intencionais, impulsionado principalmente pelo conflito sangrento entre duas facções criminosas por território para o tráfico de drogas.
Guerra entre facções criminosas se intensifica
Fontes ouvidas pelo Diário do Nordeste apontam que o principal motivo para a volta do aumento de homicídios é o acirramento da guerra entre as facções criminosas no Ceará, nos últimos anos.
Um policial que atua na Inteligência da SSPDS analisa que "esses índices (de homicídios) apontam exatamente a movimentação das organizações criminosas". "Em 2019, quando houve aquela série de ataques, estávamos vivenciando o auge das disputas. Na ocasião, tínhamos PCC (Primeiro Comando da Capital) ao lado da GDE (Guardiões do Estado), contra o CV (Comando Vermelho)", lembra.
¨Quem era de uma determinada organização criminosa jamais poderia chegar perto de área rival, as disputas territoriais eram banhadas a muito sangue e carnificina. Tínhamos chacinas seguidas. Depois daquele problema, veio a mudança na gestão dos presídios. E uma série de outras medidas que levou as facções a repensarem essas disputas. Vimos os índices arrefecerem."
Policial da Inteligência da SSPDS Identidade preservada
Entretanto, surgiu um novo elemento na guerra entre as facções no Ceará: a organização criminosa denominada de Massa Carcerária, que provocou um "rasga-rasga de camisas" (troca de facções), segundo o policial. A disputa entre a nova facção e os grupos mais antigos foi se acirrando, a cada ano. "As guerras territoriais, que jamais foram extintas, voltariam mais fortes. O tráfico de drogas é o elemento central. Fortaleza é um local de grande circulação de drogas e o Ceará figura como um trampolim para mercados internacionais", conclui.
O sociólogo, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), Luiz Fábio Paiva, afirma que esse número de mais de 3 mil pessoas mortas, em um ano, "é muito significativo" e tem outras causas, além da guerra entre as facções criminosas.
¨O Ceará vive entre momentos de aumento e de redução de homicídios, mas, independentemente do número, a gente vive uma situação que se repete ano após ano. Nós temos situações de confronto entre grupos armados, conflitos que transbordam para a população, conflitos interpessoais que causam homicídios e feminicídios, além de outras causas."
Luiz Fábio Paiva Sociólogo
Luiz Fábio afirma que "há uma ineficiência em tratar de determinadas situações e muita dificuldade no controle da ação das facções" e destaca que crimes violentos cometidos pelo crime organizado, no fim do ano de 2024, "surpreenderam". "A gente precisa entender e produzir uma solução que seja duradoura. Ano após ano, tem operações (policiais) e aumento de efetivos, mas não se consegue impedir que esses grupos se reproduzam", aponta.
Mudança de panorama no meio do ano
Apesar do aumento de homicídios em 2024 na comparação com 2023, o Estado celebrou reduções de mortes violentas nos últimos meses do ano passado. A mudança de panorama ocorreu após a troca do titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará. Roberto Sá assumiu a Pasta no início de junho último.
A SSPDS ressaltou que o Ceará teve uma redução de 5,8% nas mortes violentas e Fortaleza, uma redução de 10,7%, entre julho e novembro de 2024, na comparação com igual período de 2023. Segundo a Pasta, "houve intensificação na presença policial nas ruas e novos policiais militares e civis foram empossados, fortalecendo ações ostensivas e investigativas, além da aquisição de equipamentos como viaturas, rádios-comunicadores e coletes".
"Ainda para reforçar a Segurança Pública no Ceará, o governador Elmano de Freitas lançou, no final do mês de agosto, o programa Ceará contra o Crime. Se tratando de prevenção aos CVLIs, a SSPDS segue mantendo diálogo permanente com outros órgãos estaduais em busca de articular, de forma integrada, políticas públicas para promover lazer, cultura e esporte em territórios vulneráveis, com base nos estudos realizados pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), uma dos órgãos vinculados à SSPDS", destacou a Secretaria, em nota.
Em dezembro de 2024, o Governo ainda divulgou um plano de reestruturação das Forças de Segurança Pública, com um investimento de R$ 24 milhões ao ano; criação de novos cargos para a Polícia, o que deve levar o Estado a promover novos concursos públicos; promoção de mais de 2 mil militares; e entrega de novos equipamentos para a Polícia.
Leia a nota da SSPDS na íntegra:
"A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS/CE) informa que mantém, ininterruptamente, seus esforços direcionados à redução dos indicadores de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) em todo o território cearense. A SSPDS tem desenvolvido diversas iniciativas com o objetivo de reforçar a atuação das Forças de Segurança no combate às mortes violentas em todas as regiões do Ceará.
Com o conjunto de ações, a partir do segundo semestre de 2024, considerando de julho a novembro, quando houve intensificação na presença policial nas ruas e novos policiais militares e civis foram empossados, fortalecendo ações ostensivas e investigativas, além da aquisição de equipamentos como viaturas, rádios-comunicadores e coletes, Fortaleza teve uma redução de 10,7% nas mortes violentas, com 338 CVLIs nos cinco meses, contra 347 casos no mesmo período em 2023. Somente no mês de novembro, a redução, na Capital, foi de 27,8%. Com 57 CVLIs no período, contra 79 registros em 2023, o resultado de novembro foi o melhor na série histórica, desde 2009.
Conforme os dados, compilados pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) da SSPDS, em todo o Ceará, houve redução de 5,9% nos CVLIs, durante o mês de novembro de 2024. Durante os cinco primeiros meses do segundo semestre, o Ceará também teve uma redução de 5,8% nas mortes violentas.
Ainda para reforçar a Segurança Pública no Ceará, o governador Elmano de Freitas lançou, no final do mês de agosto, o programa Ceará contra o Crime. Se tratando de prevenção aos CVLIs, a SSPDS segue mantendo diálogo permanente com outros órgãos estaduais em busca de articular, de forma integrada, políticas públicas para promover lazer, cultura e esporte em territórios vulneráveis, com base nos estudos realizados pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), uma dos órgãos vinculados à SSPDS.
Por fim, a pasta ressalta que o realinhamento entre os órgãos ocorreu em sintonia com o reforço de efetivo policial e investimentos na Segurança Pública promovidos pelo Governo do Ceará, visando o combate aos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) no Ceará."
FONTE: DN
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