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quarta-feira, 30 de julho de 2014

DETENTOS BUSCAM CERTIFICAÇÃO E FAZEM PROVAS

Internos recolhidos na (CPPL III) Casa de Privação Provisória de Liberdade III, em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza, também fizeram a prova com o objetivo de obter a certificação FOTO: RUI NÓBREGA

Detentos e detentas do sistema penitenciário do Estado do Ceará participaram do Exame Nacional para Certificação de Competência de Jovens e Adultos (Encceja). Ao todo, 508 apenados fizeram provas com o objetivo de concluir o Ensino Fundamental e buscar um futuro diferente depois que atravessarem os muros de concreto das unidades prisionais do Estado.

A reportagem acompanhou a realização das provas no Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa, localizado na BR-116, em Aquiraz. A unidade abriga cerca de 580 mulheres em conflito com a Lei. Cherlene Sousa, 21, estava entre as detentas que realizaram o exame. Ao lado de outras 10, que haviam terminado o teste, ela comentou sobre as perspectivas do futuro. "Participo do programa ProJovem e estudo. Me inscrevi para a prova. Pretendo mudar quando sair daqui", explicou a apenada.

Faculdade

A jovem ainda não sabe qual curso deseja seguir, mas ressaltou que quer fazer faculdade. Ela foi detida em 2012 por crime de assalto, foi julgada e cumpre pena estimada em 10 anos. "Quero ter outra vida. Aqui me proporcionam estudo, alimentação e trabalho. Meu roubo foi qualificado, foi em uma loja, mas devo sair em 2015", diz Cherlene.

Em meio aos tons alegres de lilás pintados na parede da prisão, uma sala cheia de livros chama a atenção de quem passa: a biblioteca da unidade prisional. Quem cuida do espaço é a interna Daniele da Silva Cunha, de 25 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas. Ela diz que não tinha experiência com o trabalho de bibliotecária, mas depois se interessou pelo serviço. "Quando fui julgada, ficava triste e chorando. Pedi que me dessem algum trabalho e cheguei aqui. Tomara que eu tenha oportunidade de sair trabalhando", comenta entusiasmada.

Cuidar da biblioteca foi o primeiro trabalho de Daniele, condenada a três anos e seis meses, mas já cumpriu um ano e seis meses. Indagada de que agora falta pouco tempo para sair, ela retruca: "É pouco tempo porquê não é você. Para quem vive dentro do presídio é muito tempo", ressalta a jovem.

Entre os livros mais locados na biblioteca, Daniele destaca os de romance e autoajuda e cita um escritor do tema como um dos mais procurados pelas colegas. A Secretaria de Justiça (Sejus) pretende aumentar o projeto da biblioteca para todas as unidades penais e estabelecer uma diminuição de pena. Para cada livro lido seria um dia a menos sem liberdade.

Além do presídio feminino, as provas do Encceja foram realizadas em outras unidades prisionais do Estado como a Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL III), em Itaitinga. Na CPPL III a reportagem não pôde conversar com os detentos devido às normas do Ministério da Educação (MEC) e por questões de segurança impostas pela Secretaria de Justiça.

Dois lados

Um lado pintado e colorido e com salas de aulas. Muitas frases bíblicas e de autoajuda. Outro lado, não aberto para entrada da imprensa, mostrava celas mais escuras e cheias de detentos que chamavam a atenção da equipe de reportagem e pediam para serem filmados.

Segundo o assessor Educacional da Sejus, Rodrigo Moraes, o exame é uma grande oportunidade para garantir o direito da pessoa privada de liberdade. "Para que ele possa ser certificado e para nós avaliarmos o nível de aprendizado tanto dos internos como dos alunos do Sistema Penitenciário".

O diretor da CPPL III, Marcos Karbage, informa que na penitenciária funciona uma escola. Ele destaca projetos de tapeçaria, fábrica de bola e enfeites, que ocorrem em dias alternados. "Na medida em que vão surgindo os projetos, a diretoria os agrega aos 1.360 internos", acrescenta.

Jovens prestam exame

Os adolescentes internos nos Centros Educacionais de Fortaleza também tiveram uma chance de concluir o Ensino Fundamental através da aplicação do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) destinado a pessoas privadas de liberdade.

No Ceará, 345 adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas prestaram o exame durante a manhã e a tarde de ontem, segundo a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS).

O Estado possui 11 Centros, dos quais oito são em Fortaleza. De acordo com a STDS, cerca de um terço dos internos, somadas todas as unidades, participaram da aplicação das provas.

A diretora em exercício do Centro Educacional Patativa do Assaré (Cepa), Magna Maria Rebouças, coordenou os trabalhos do Encceja executados no Centro que está dirigindo.

Tranquilidade

Magna enfatizou que a aplicação das provas ocorreu tranquilamente. "Aqui no Cepa foram utilizadas cinco salas para que 63 adolescentes participassem do exame. Ocorreu tudo com muita tranquilidade, foi bastante satisfatório", disse. Contente com o que chamou de "incentivo para a ressocialização", Magna destacou a importância para os jovens de conquistarem o diploma do primeiro grau.

"O objetivo é ressocializá-los, incentivá-los a quando retornarem para a sociedade, continuarem os estudos, incentivando a leitura. É muito bom ter estas provas para este incentivo".

Para Magna, a sociedade deve focar um novo olhar sobre os jovens. "Esta é uma experiência positiva. Acredito muito neste trabalho", ponderou.

AUTOR: DN

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