Caso de agressão começou na Praia dos Crush (Foto: MAURI MELO/ O POVO)
Esse domingo, 9, que era para ser um dia de felicidade, em meio à comemoração pela vitória da Seleção Brasileira na Copa do Mundo feminina de futebol, acabou em violência, lesbofobia e racismo, na Praia de Iracema, em Fortaleza. Em um dos principais pontos turísticos da Capital cearense, cinco mulheres foram vítimas de uma tentativa de linchamento com gritos de "sapatão" e frases como "vocês não deviam estar aqui". O caso foi registrado por volta das 17 horas.
Uma publicitária, uma advogada, uma jornalista, uma graduada em marketing e uma universitária do curso de Moda foram cercadas por um grupo de 15 a 20 pessoas após denunciar a agressão cometida por um vendedor ambulante. As mulheres, que têm entre 26 e 28 anos de idade, afirmam que os responsáveis pela tentativa de linchamento ficaram revoltados com a denúncia, que fez com que a Polícia fosse atraída para o local. Uma sexta pessoa que também estava com as vítimas conseguiu fugir.
A principal vítima da agressão foi entrevistada pelo O POVO Online e pediu para não ser identificada. A primeira violência aconteceu nas proximidades do Aterrinho da Praia de Iracema. O trecho da orla, localizado entre o Espigão da João Cordeiro e a Ponte dos Ingleses, é conhecido como "Praia dos Crush". O grupo foi até a Praia de Iracema para assistir ao jogo e permaneceu na praia após a partida no intuito de ver o pôr do sol.
"Dei 20 R$ e ele devolveu apenas R$ 6 de troco. Disse que não tinha o restante do dinheiro e que ia colocar mais cachaça na caipirinha. Minha namorada disse que não precisava e depois passava lá para pegar o troco. Ele começou a dizer que ela estava bêbada e agredir a gente com palavras. Foi quando escutei ele insultar e a chamar de sapatão e falou em questão de pele, uma injúria racial com ela. Ela não ouviu, pois estava distante. Eu voltei e pedi respeito. Quando virei para procurar minha namorada ele deu um soco na lateral do meu rosto", relatou.
A advogada de 26 anos sequer consegue repetir todas as ofensas que recebeu. Ela afirma que foi agredida e roubada. "Na primeira porrada que ele me deu eu caí no chão. Meu óculos caíram e meu relógio sumiu. Quando levantei o outro cara que estava na barraca amarrou meu braço para trás e senti uma porrada no mesmo lugar. Continuaram me batendo e ele travou meus braços. Minha namorada ficou na minha frente e mandando ele ir embora", relatou.
Após a agressão, as vítimas procuraram a Polícia Militar, que foi até o local junto das meninas. O autor do crime não estava mais no ponto de vendas. A garota agredida viu que o ajudante do agressor estava no lugar dele na venda de bebidas e afirmou aos policiais que na hora da agressão o homem ajudou a segurá-la. Segundo outra menina, o ajudante negou e disse à Polícia que tentava afastá-lo. Ele não foi preso ou encaminhado à delegacia para esclarecimentos.
Uma terceira vítima, que também pediu para não ser identificada, prestou depoimento como testemunha. Ela disse, em entrevista ao O POVO Online, que perceberam que o caso não seria resolvido e seguiram até o carro no intuito de voltar para casa. Nesse momento não houve escolta policial. No caminho, as mulheres foram surpreendidas por um grupo de 15 a 20 pessoas, a maioria do sexo feminino, que corria em direção a elas.
Uma terceira vítima da tentativa de linchamento, que também concedeu entrevista à reportagem, relata que correu até o posto policial. "Cerca de 20 pessoas correndo atrás da gente, a maioria mulheres. Quando a gente viu, a primeira reação que eu tive foi de correr para chamar a Polícia. Eu corri muito rápido e, enquanto isso, as pessoas estavam batendo nelas. Cheguei ofegante na cabine da Polícia. Afirmei que minhas amigas estavam sendo agredidas e um dos PMs disse que ia pegar a moto. Eles foram e eu fui correndo na frente. Só pararam de bater nelas depois que a Polícia chegou", afirmou a garota durante a entrevista.
Conforme o relato das vítimas, não aconteceram prisões em flagrante. Uma das meninas foi socorrida a um hospital particular após desmaiar diversas vezes. O grupo entrou em contato com uma advogada e seguiu para o 2º Distrito Policial, na Aldeota, onde foi registrado o Boletim de Ocorrência (B.O.). Na unidade da Polícia Civil, duas das meninas foram encaminhadas à sede da Perícia Forense para realização do exame de corpo de delito. Já as vítimas que não sofreram agressões físicas prestaram depoimento como testemunhas.
Uma das vítimas relata o drama que está vivendo após o caso de violência. "Estamos com medo. Eu não estou querendo nem sair de casa. O medo é que alguém tenha gravado a minha cara. Uma das meninas chegou a ver uma mulher armada com faca e saiu correndo. Poderia ter acontecido algo pior se a Polícia não tivesse chegado. A gente não tinha nem como se defender", relata a vítima.
Polícia Civil investiga caso
A Polícia Civil do Estado do Ceará, por meio de nota, informou que as investigações estão a cargo do 2º Distrito Policial, na Aldeota. "Um Boletim de Ocorrência (B.O) foi registrado pelas vítimas, na noite de ontem (domingo, 9), tendo a delegacia distrital expedido uma guia para a realização do exame de corpo de delito na Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce)", disse o órgão, que informou que analisará qual o procedimento policial será instaurado e quais os crimes os autores serão indiciados.
Correria na Praia de Iracema
No domingo, 9, a ocorrência de um "tumulto" na Praia de Iracema chegou ao O POVO Online por meio de banhistas no começo da noite. As pessoas relatavam a presença da Polícia no local e correria na praia. O POVO Online solicitou nota à Polícia Militar sobre o que acontecia no local. A PMCE, por sua vez, informou que foi acionada para uma tentativa de linchamento e que em seguida teria escoltado as vítimas. Na nota não foi informado o contexto da tentativa de linchamento.
AUTOR: O POVO
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