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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

MULHERES DO CE, BA, MG E SP, ERAM TRAFICADAS PARA EUROPA VIA FORTALEZA

Polícia Federal disse que foram a´preendidos documentos e computadores. Tudo vai ser estudado pelos policiais. Polícia não descarta mais prisões (Foto: Gioras Xerez/G1 Ceará)

As mulheres brasileiras que eram vítimas de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual saíram, em sua maioria, do Ceará, além da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, e eram levadas de Fortaleza para cidade de Nova Gorica na Eslovênia, via Milão, na Itália. O esquema, detalhado pela Polícia Federal nesta quarta-feira (15), é investigado desde 2013. A operação Marguerita, nome de uma boate eslovena, prendeu 14 pessoas até o início da tarde desta quarta.

De acordo com o superintendente Regional da Polícia Federal do Ceará, Delano Cerqueira Bunn, Fortaleza é a rota principal do tráfico de pessoas e da prostituição.

"Fortaleza é sim rota do tráfico internacional de pessoas e da prostituição. E essa operação de hoje confirmou isso. Todas essas pessoas presas aqui em Fortaleza. A organização criminosa que existe desde 2010", disse Delano.

Ainda segundo o superintendente da Polícia Federal o principal motivo de Fortaleza virar rota internacional é devido ao turismo e a posição geográfica. "Principal justificativa é a questão turística e a posição geográfica. E cito é que a maioria das pessoas são de baixa renda. Pessoas que sonham em uma vida melhor", explica.
Procedimentos estão em andamento e segundo a Polícia Federal mais pessoas podem ser presas. Maioria são estrangeiros. Italianos e eslovenos (Foto: Gioras Xerez/G1 Ceará)

Segundo a PF, as mulheres estavam cientes que a viagem era para prostituição, mas não sabiam que teriam a liberdade restrita. "Ela era obrigada a pagar aluguel de 480 dólares por pessoa, e muitas vítimas ficavam juntas. Tinha uma série de pagamentos que elas tinham que cumprir, além de ter que obter o lucro", informou a delegada Juliana Pacheco.

"Elas eram ameaçadas caso não cumprissem os programas. Se não cumprir o horário, vou comunicar que você tá ilegal pra você ser deportada", acrescentou. As vítimas chegavam a trabalhar de 19h à 0h em uma boate, e de 0h às 2h em outra boate. Juliana Pacheco acrescenta que algumas não sabiam que iam trabalhar no ramo da prostituição. "Algumas delas realmente não sabiam que iam trabalhar neste ramo".

Entre os presos, cinco estrangeiros, sendo três eslovenos e dois italianos, que possuíam empresas de fachada para fazer o recrutamento das mulheres. O esquema envolvia também agências de turismo de Fortaleza, localizadas na Avenida Beira Mar e no Bairro Aldeota, que agenciavam as vítimas.

Ainda segundo Juliana Pacheco as “cabeças” da organização eram empresários estrangeiros.

“Empresários, pessoas estrangeiras que vinham para cá para Fortaleza. Esses estrangeiros vinham e montavam empresas de fachada entravam com pedido para permanecer no Brasil com vista de investidor e foram feitos levantamentos e não foi identificado nenhuma empresa no local e inclusive alguns deles tiveram o visto cancelado já para serem deportados”, disse.

Transferências bancárias
Juliana Pacheco explicou também que o grupo realizava constantemente transferências em dinheiro para capital cearense. Dinheiro este para financiar o crime.

"Transferências bancárias para aliciar o negócio em Fortaleza. Valores altos vindos diretos da Europa. Tem quantias enormes, uma delas de R$ 1 milhão. Desse valor percebemos que ele foi sacado todo à vista em um banco. Foi transferido para uma empresa de fachada e sacado à vista. Vários depósitos em dinheiro justamente para não identificar a pessoas do depósito e saque também no mesmo dia. Não fazia transferências para não deixar pistas”, afirmou.

Os 18 mandados de condução coercitiva foram cumpridos com mulheres que já voltaram ao Brasil após terem sido vítimas do esquema. Elas serão ouvidas em depoimento. A PF informou ainda que houve resgate de vítimas nesta quarta-feira.

"Há o engano, a coação, a fraude, a vulnerabilidade, endividamento compulsório. 'Vou ter que pagar pra ter alimentação, moradia, e o que eu ganho nunca será suficiente para quitar as dívidas", detalhou o superintendente da PF, Delano Cerqueira Bunn.

O material apreendido, incluindo computadores, celulares, documentos, serão periciados. Após a conclusão do inquérito, o caso será enviado à Justiça. "Nós conseguimos apreender nesta operação vários documentos e alguns computadores. Eles serão estudados e nossa equipe não descarta a participação de outras pessoas", disse Delano Cerqueira.

Operação Marguerita
A Polícia Federal deflagrou a operação Marguerita no Ceará na manhã desta quarta-feira (15) contra um grupo criminoso internacional especializado em tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. As vítimas eram levadas de Fortaleza para a Itália e Eslovênia. Foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão, 13 mandados de prisão preventiva, 2 mandados de prisão temporária e 18 mandados de condução coercitiva, todos expedidos pela 32ª Vara da Justiça Federal no Ceará.

Em Fortaleza, durante a operação, agentes estiveram em um prédio na Avenida Historiador Raimundo Girão, na Praia de Iracema. A PF também cumpriu mandados de prisão e de apreensão na Praia do Cumbuco, em Caucaia, na Grande Fortaleza.

"O que foi preso hoje em Fortaleza ele era o cabeça até 2012. Ai aconteceu uma situação que ele se afastou e outros começaram e o grupo ficou ramificado. Antes era mais centralizado e ele era o chefe. Aqui em Fortaleza fizemos a prisão de um esloveno. Já respondia por tráfico de pessoas e prostituição na Eslovênia.", afirmou Juliana Pacheco.

A rede criminosa, segundo a PF, é composta por aliciadores, responsáveis pelo recrutamento, transporte, viagens para o exterior, acolhimento, alojamento e exploração sexual de vítimas (mulheres) nos países de destino.

Foram mobilizados 92 policiais federais no Brasil para cumprir os mandados no Ceará, Bahia, Minas Gerais e São Paulo, contando ainda com a participação de autoridades policiais da Itália e Eslovênia, acionadas pelos canais de cooperação internacional (Interpol e Adidância da Polícia Federal em Roma).

A PF destacou que o crime de tráfico internacional de pessoas com a finalidade de exploração sexual trata de grave violação de direitos humanos, considerando a situação de vulnerabilidade das vítimas, que muitas vezes, iludidas pelos aliciadores, mediante fraude, são levadas a países da Europa e submetidas à condição degradante.

Os presos serão indiciados por crime de tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual, associação criminosa e lavagem de dinheiro, com pena prevista de até 25 anos de reclusão.

A operação foi batizada de “Marguerita” em alusão ao nome da principal boate (Margerita) na Eslovênia onde se exploravam sexualmente as vítimas.

AUTOR: G1/CE

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