O roubo de US$ 11,7 milhões da transportadora de valores Prosegur na madrugada da segunda-feira 24, em Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil, é considerado o maior assalto da história do Paraguai. E foi uma ação de brasileiros. “Temos indícios suficientes para atribuir o crime ao PCC”, disse à ISTOÉ Denise Duarte, fiscal do Ministério Público e responsável pelas investigações naquele país. O Primeiro Comando da Capital, facção criminosa nascida em São Paulo, avança com ímpeto irrefreável por todo o território nacional e países vizinhos.
Ataques a bancos, carros fortes e transportadoras de valores têm crescido nos últimos dois anos para abastecer o caixa da organização. “O emprego dos explosivos, a maneira como foi planejado o assalto e o apoio logístico é muito parecido com o que ocorre no Brasil”, afirma Lincoln Gakiya, promotor de Justiça que investiga a facção. O assalto cinematográfico, contudo, envolve um aspecto adicional: a organização atua para consolidar sua presença em uma região importante da América Latina para o tráfico de drogas.
O crime foi planejado com um mês de antecedência e se desenrolou como um filme de ação. Os criminosos haviam alugado uma casa no bairro San José, a dois quilômetros da sede da Prosegur. Na noite do domingo 23, mascarados queimaram veículos e caminhões com o intuito de dificultar a aproximação de policiais da sede da companhia. Seis bombas foram lançadas contra paredes blindadas e tiros de fuzis foram disparados nas ruas. Entre os armamentos, foi encontrada uma metralhadora calibre .50, que nem as polícias brasileiras e paraguaias costumam utilizar. Quando a troca de tiros começou, muitos homens fugiram rumo à fronteira do Brasil pela rodovia Supercarretera. Depois, na região do Lago Itaipu, os assaltantes usaram dois barcos para chegar ao Paraná. Isso porque, segundo policiais militares, essa é uma rota com menos fiscalização do que o caminho pela Ponte da Amizade.
Resgate de Marcola
As investigações identificaram dois suspeitos integrantes do PCC. Um deles é Dyego Santos Silva, morto durante confronto com a polícia. Conhecido como Coringa, ele pertencia à alta cúpula da facção e seria o responsável por ações realizadas fora dos presídios. “Para estar na região da fronteira, ele teria de contar com a anuência da cúpula e de Gegê do Mangue, um dos maiores nomes da hierarquia que está foragido nos países vizinhos”, diz Marcos Antonio Brites, agente da Polícia Federal do Brasil no Paraguai. Outro suspeito, José Roberto, é fugitivo da Penitenciária Estadual de Piraquara do Paraná. Foragido desde janeiro, ele também integra o PCC e foi condenado a 31 anos e quatro meses de prisão por tráfico de drogas, associação criminosa e uso de documento falso. Durante a troca de tiros com policiais federais brasileiros em Foz do Iguaçu, ele foi preso novamente. As autoridades acreditam que ambos faziam parte do grupo que também planejava resgatar o líder do PCC Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outros 12 integrantes da facção. A estratégia seria a mesma utilizada nos roubos a bancos: os acessos aos presídios seriam cercados e vigiados por homens armados e os portões derrubados por explosivos.
“Para sustentar os planos de expansão nacional e internacional, a facção precisa de uma forma de fomento. Como tem aumentado o número de integrantes, é necessário mais dinheiro para o planejamento das ações”, diz Gakiya. Em ações como essas, uma parte do lucro é destinada ao cofre da organização, outra parcela abastece o narcotráfico e o restante é usado para a aquisição de armamentos. Uma das consequências da prática do roubo às instituições financeiras se proliferar é que a necessidade de lavar dinheiro também aumente. “Isso pode ampliar negócios nacionais e internacionais e então, de fato, o PCC se tornaria uma organização mafiosa”, afirma. Desde junho do ano passado, os ataques do PCC no Paraguai se intensificaram. Com o assassinato do traficante Jorge Rafaat Toumani, que era conhecido como “rei da fronteira”, o grupo brasileiro pretendia garantir sua hegemonia na região, ocupando o mercado que pertencia a ele e dominando as rotas do tráfico de drogas do Paraguai.
Para ampliar presença em territórios internacionais, o PCC deverá repetir a estratégia que vem utilizando com sucesso no Brasil com os assaltos a bancos. Só na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, ocorreram cinco explosões em apenas uma semana. Duas na sexta-feira 21. “Os criminosos de São Paulo repassam a expertise para os cariocas, há um intercâmbio entre facções cariocas e paulistas”, diz Fabiano Gonçalves, promotor do Ministério Público Estadual e coordenador de uma operação que identifica e prende quem executa e esse tipo de ataque. Com essas ações, o PCC se fortalece e reforça sua imagem e seu orçamento. “O grupo tem o domínio geográfico, financeiro e bélico de determinadas regiões”, diz Gakiya. “Isso pode transformá-lo em um grande cartel de drogas com hegemonia internacional.”
Os tentáculos da facção na América Latina
> Argentina
O PCC importa armamentos argentinos como fuzis, metralhadoras e explosivos
> Bolívia
Desde 2008, bolivianos enviam drogas e armas para o Brasil, que seriam usadas em assaltos a bancos
> Colômbia
Há evidências de contatos diretos de integrantes do PCC com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
> Paraguai
O PCC disputa território com quadrilhas locais
> Peru
A facção planeja ampliar os negócios no país e, assim, dominar todas as rotas do Narcosul
>Venezuela
Em parceria com narcotraficantes da Colômbia, o grupo já controla algumas rotas de exportação venezuelanas
O maior roubo da história do Paraguai
O Crime
Na segunda-feira 24, por volta da 1h30, dezenas de homens com fuzis, metralhadoras e granadas explodem a sede da transportadora de valores Prosegur, em Ciudad del Leste
O valor
Com a explosão do caixa-forte, os criminosos levam cerca de US$ 11,7 milhões
A estratégia
Os homens fecharam três acessos à sede da empresa com caminhões, deixando apenas uma saída livre para a rota de fuga. Foram incendiados 15 veículos para dispersar a polícia
Os “soldados”
Cada membro do grupo tinha funções específicas, como impedir a aproximação de policiais, explodir a sala do cofre e cuidar da segurança dos outros integrantes
A reação das autoridades
A polícia paraguaia afirma que não conseguiu chegar ao local por conta dos explosivos e do caos na região
Rota de fuga
Os assaltantes usavam máscaras e falavam português. Depois do roubo, fugiram em direção à fronteira em uma lancha para então entrar na selva
O confronto
Em território brasileiro, a Polícia Federal troca tiros com suspeitos em Itapulândia, no Paraná e contabiliza 12 pessoas
O arsenal
Foram apreendidos cinco veículos, um carro de polícia, um fuzil, uma pistola, um barco, sete quilos de explosivos e munição de grosso calibre.
AUTOR: massapeceara.com
Os homens fecharam três acessos à sede da empresa com caminhões, deixando apenas uma saída livre para a rota de fuga. Foram incendiados 15 veículos para dispersar a polícia
Os “soldados”
Cada membro do grupo tinha funções específicas, como impedir a aproximação de policiais, explodir a sala do cofre e cuidar da segurança dos outros integrantes
A reação das autoridades
A polícia paraguaia afirma que não conseguiu chegar ao local por conta dos explosivos e do caos na região
Rota de fuga
Os assaltantes usavam máscaras e falavam português. Depois do roubo, fugiram em direção à fronteira em uma lancha para então entrar na selva
O confronto
Em território brasileiro, a Polícia Federal troca tiros com suspeitos em Itapulândia, no Paraná e contabiliza 12 pessoas
O arsenal
Foram apreendidos cinco veículos, um carro de polícia, um fuzil, uma pistola, um barco, sete quilos de explosivos e munição de grosso calibre.
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