Um ano que ficará marcado na memória dos fortalezenses por conta de uma tragédia.
O desabamento de um prédio residencial localizado na zona nobre da cidade deixou nove pessoas mortas e outras sete feridas. Também ficará marcada para muitas famílias a perda de jovens para o tráfico de drogas, diante da guerra de facções que teimam em resistir às ações da Polícia e da Justiça.
O ano começou com uma sequência de ataques criminosos e termina com uma nova onda de assassinatos praticados por pistoleiros, matadores de aluguel.
Veja, a seguir, uma retrospectiva do que aconteceu de mais marcante na área da Segurança Pública no Ceará em 2019.
Foram fatos policiais que tiveram repercussão na mídia e nas redes sociais.
Atentados
Uma onda de atentados criminosos devastou o Ceará em janeiro de 2019. Facções criminosas reagiram com violência nas ruas as novas medidas disciplinares tomadas pelo novo secretário da Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, que determinou o fim de celulares nos presídios, o fechamento de dezenas de cadeias públicas no Interior e a suspensão de visitas íntimas, além de misturar em uma só Casa de Privação Provisória da Liberdade (CPPL), bandidos de facções inimigas. Nas ruas, a reação dos criminosos foi fulminante: ônibus incendiados, bombas explodidas em viadutos e pontes, delegacias, fóruns e prédios públicos e particulares vandalizados. O Governo do estado pediu a presença da Força Nacional de Segurança (FNS) e outros reforços. Mais de 100 prisões foram realizadas.
Crime brutal e fuga mirabolante
Na noite de 24 de março, a estudante universitária Daniele Oliveira Silva, 24 anos, foi raptada, estuprada e morta a tiros na zona rural do Município de Pedra Branca, no Sertão Central (a 285Km de Fortaleza). O assassino foi identificado como sendo o vaqueiro José Pereira da Costa, o “Zé de Valério”. Ele fugiu e, durante 88 dias, driblou a Polícia do Ceará. Numa fuga alucinada e mirabolante, ele percorreu a pé, no mato, cerca de 278 quilômetros. Enfrentou a Polícia a bala, até que na manhã de 12 de julho foi detido por um agricultor no Município de Buriti dos Montes, no Piauí.
Quadrilha fardada
No dia 28 de março, uma operação do Ministério Público do Estado do Ceará, através do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), prendeu uma quadrilha formada por policiais militares destacados no Batalhão do Policiamento do Meio-Ambiente (BPMA), nos quartéis sediados nas cidades de Sobral e Tianguá. O grupo de nove militares, incluindo dois oficiais e sete praças, foi acusado de crimes diversos , tais como: corrupção ativa e passiva, associação para o crime, concussão e outros. Os nove foram afastados das funções e já denunciados pelo MP.
Tragédia familiar
Na madrugada de 8 de junho, um crime causou repercussão no estado. Aconteceu na cidade de Itapipoca (a 125 Km de Fortaleza). Inconformado com o fim do casamento, o cabeleireiro Francisco Marlin Oliveira Lima assassinou, a facadas, a ex-companheira, Maria Erisvalda Frota, 31 anos; e a filha do casal, a pequena Maria Cecília Frota dos Santos, de apenas um ano e 11 meses de vida. O assassino fugiu, mas acabou preso dois dias depois e confessou o crime premeditado.
Advogados presos
No dia 2 de agosto, uma operação conjunta do Ministério Público do Ceará e a Polícia Civil desarticulou uma quadrilha formada por nove advogados que trabalham na área Criminal. Foram acusados de práticas criminosas com o objetivo de facilitar transferências, julgamentos e soltura de líderes de facções criminosas. As autoridades descobriram depois, que o grupo também fazia a comunicação dos “chefões” do crime com os bandidos em liberdade. A quebra de sigilo telefônico levou as autoridades a descobrir os diálogos mantidos entre advogados e bandidos até mesmo para fins de tráfico de drogas.
Mais ataques no Ceará
Em setembro, a transferência de vários líderes de facções criminosas presos no Ceará para presídios federais de segurança máxima em outros estados fez eclodir uma nova temporada de ataques criminosos em Fortaleza e Região Metropolitana. Durante uma semana houve novos incêndios criminosos contra ônibus e mais ataques a prédios públicos. Mesmo assim, as autoridades não recuaram e os presos foram tirados do Ceará, anulando consideravelmente a capacidade de articulação dos grupos criminosos.
Tragédia em Fortaleza
Era manhã do dia 15 de outubro, quando o Edifício Andréa, localizado na Rua Tibúrcio Cavalcante, no bairro Dionísio Torres, na zona nobre de Fortaleza, desabou. A tragédia matou nove pessoas e deixou outras sete feridas, que foram retiradas dos escombros do imóvel em uma operação do Corpo de Bombeiros Militar com a ajuda de voluntários. A operação de varredura nos escombros durou cinco dias. Foram mais de 100 horas de trabalho nos destroços do prédio, que caiu quando era realizada uma reforma em seus pilares. A Polícia Civil abriu inquérito, que ainda não foi concluído e ninguém responsabilizado.
Crimes brutais contra mulheres
Mais de 200 mulheres foram assassinadas no Ceará em 2019. Crimes brutais marcaram essa onda de crimes de gênero. Um deles foi registrado no dia 25 de novembro, quando o corpo esquartejado e decapitado de uma jovem foi encontrado no Rio Cocó, em Fortaleza.
Até hoje, as autoridades sequer identificaram a vítima. Os assassinos continuam impunes. E na manhã do dia 15 de dezembro, os corpos da publicitária Taís Amaral Oliveira Lopes, 24 anos, e do seu tio, Jorge Luís Farias Lopes, 52, foram encontrados carbonizados dentro de um carro incendiado na Estrada de São Pedro, no Município de Paracuru (a 100 Km de Fortaleza). Outro crime sem resposta até agora.
Pistolagem em alta
O ano terminou com uma sequência de crimes com características de pistolagem. O de maior repercussão aconteceu há apenas uma semana. Foi na manhã do dia 24 de dezembro, véspera de Natal, quando matadores de aluguel assassinaram o prefeito do Município de Granjeiro (a 548 Km de Fortaleza), João Gregório Neto, 54 anos, o “João do Povo”. Em Senador Pompeu, no Sertão Central (a 273 Km da Capital), pistoleiros mataram o funcionário público Cícero Flávio Uchoa Nascimento de Idairã, 22 anos. A Polícia ainda investiga os casos e não descarta a hipótese de crimes com motivação política.
AUTOR: FERNANDO RIBEIRO