“Não tinha porque ficar com ele, esse dinheiro não é meu”, explica. “Eu ainda não sei como veio parar aqui, não sei se seria um presente para mim ou qualquer outra coisa, mas achei que o certo era entregar para a polícia. Não quis nem mexer.”
A vontade de fazer a coisa certa superou até os pedidos do adolescente, de 13 anos, para comprar um computador e o desejo de trocar o carro da família, que tem 14 anos e está avaliado em R$ 8 mil. Com a quantia, Farias acha que também seria possível pagar as dívidas do cartão de crédito e pensar em uma nova casa. O imóvel onde ele, a mulher e o filho vivem é funcional e foi cedido pelo ministério enquanto ele estiver trabalhando.
"Daqui a dois anos eu vou me aposentar. Não temos para onde ir. Isso é o que mais me preocupa no momento. Se esse dinheiro me ajudaria? Com certeza. Mas eu não posso contar com uma quantia que não é minha, não é mesmo?", questiona.
Motorista do Ministério da Defesa, José Evandro Belarmino de Farias mostra lugar onde pacote com R$ 12 mil foi encontrado (Foto: Raquel Morais/G1)
Em Brasília desde 1973, depois de passar cinco dias em um caminhão pau de arara, o motorista conta que deixou o interior do Piauí com a ex-mulher e o primeiro filho para "fugir das necessidades". Ele terminou o ensino médio no Distrito Federal, mas não conseguiu ingressar na faculdade de engenharia.
Não tinha porque ficar com ele, esse dinheiro não é meu"
José Farias, motorista do DF que devolveu R$ 12 mil encontrados no quintal de casa
"Era o que eu queria, mas não tinha como. Precisava trabalhar. Tivemos cinco filhos, então não tinha opção", disse. "Aqui eu já fiz de tudo: taxista, estoquista, trabalhei em almoxarifado. Aí veio a oportunidade no ministério e eu passei."
O salário, que chega a R$ 3 mil com as gratificações, é usado na compra de remédios para ele e a atual mulher, que é dona de casa, na mensalidade da escola do filho e na manutenção da residência. O imóvel tem três quartos, dois banheiros, sala, cozinha, quintal e garagem.
Segundo Farias, muitos vizinhos condenaram a atitude dele. “Eles disseram que se tivesse caído na casa deles, eles iriam aproveitar. Mas eu não vejo nada demais no que fiz, não me vejo como um herói. É o que qualquer pessoa deveria ter feito", afirma.
Investigação
De acordo com o motorista, o embrulho foi achado entre as plantas do quintal da casa, a cerca de cinco metros do portão. Ele acredita que alguém tenha arremessado o pacote.
O delegado Mário Henrique Garcia Jorge informou que as células foram periciadas e são verdadeiras. “Agora vamos apurar, verificar a origem, tentar descobrir em que situações esse dinheiro chegou lá.”
Uma das alternativas, apontou o delegado, é tentar rastrear onde e por quem as notas foram sacadas. No pacote havia 100 cédulas de R$ 20 e 200 cédulas de R$ 50. O caso está sendo apurado pela 3ª Delegacia de Polícia.
AUTOR: G1/DF
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