Deputados estaduais cearenses que fizeram denúncias sobre a compra de votos na disputa eleitoral no Ceará estão querendo voltar atrás em seus posicionamentos e afirmaram ter dito, no plenário da Assembleia, o que souberam através de boataria nas ruas. A acusação com maior gravidade foi feita pelo deputado Lula Morais (PCdoB), que chegou a dizer que havia candidato a deputado federal que estava utilizando dinheiro do assalto ao Banco Central, em Fortaleza, para financiar a campanha.
Lula Morais foi enfático na afirmação, em aparte ao deputado Fernando Hugo. Ele não disse ter ouvido falar e afirmou que um dos candidatos a deputado federal está comprado votos lavando dinheiro do Banco Central, no que foi advertido por colegas sobre a gravidade da denúncia que fazia.
Ely Aguiar (PSDC), Fernando Hugo (SD), Lula Morais (PCdoB) e o deputado federal Chico Lopes (PCdoB) vão ser notificados, se já não os foram, pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), representado pelo procurador regional eleitoral, Rômulo Conrado, que quer apurar as denúncias feitas durante a última sessão ordinária na Assembleia Legislativa, na terça-feira passada. Durante a plenária, os três deputados estaduais reclamaram de compra de votos que está sendo feita em todo o Interior do Estado, motivo da notificação do procurador eleitoral.
Tribuna
O deputado Lula Morais afirmou que ele não chegou a dizer que candidato estava fazendo "lavagem" com dinheiro oriundo do roubo do Banco Central, mas que apenas replicou boatos que estavam sendo feitos nos lugares em que ele visitava. No entanto, durante discussão na Assembleia Legislativa, ele denunciou, sim, que um postulante ao cargo de deputado federal estaria "lavando dinheiro do Banco Central" para comprar votos. Ele chegou a dizer, no aparte ao pronunciamento do deputado Fernando Hugo, que estava à disposição do Ministério Público (MP) para dar mais detalhes do derrame de dinheiro do referido candidato.
No entanto, Morais agora diz que vai conversar com seu advogado e terá cautela para tratar do assunto. "Não pode extrapolar. Mas quando eu chego na rua é o que dizem. As pessoas falam que todo político é ladrão, mas eu não sou. É só você andar na rua que o 'cabra' diz que estão comprando voto ali", afirmou. Segundo disse, não é papel dele, como deputado, na tribuna da Assembleia Legislativa (ele não usou a tribuna, fez a denúncia da sua própria bancada) dizer nome de pessoas supostamente envolvidas no esquema.
"É um assunto sigiloso que deveria permanecer no sigilo. Não é assunto para estar divulgando, mas é para estar sendo motivo para pesquisa sigilosa do Ministério Público. Ele sabe muito bem fazer isso. Isso precisa ser investigado", disse o parlamentar, que ainda afirmou que não terá nenhum problema em tratar do assunto quando a notificação chegar até seu gabinete.
O tema central da discussão na última terça-feira foi a falta de consciência política de eleitores durante o pleito eleitoral, que segundo disse Fernando Hugo, estaria vendendo seus votos para "políticos corruptos". O parlamentar, quando confrontado por Lula Morais, chegou a declarar que uma candidata a deputada do PCdoB estaria "descendo a Serra Grande distribuindo dinheiro".
"Ainda não fui notificado, mas eu informarei a eles que a função do Ministério Público é investigar, e eles podem correr no campo, porque eu não sou Polícia nem promotor de Justiça. Eu não tenho nada com essa frase seríssima que o Lula Morais disse, não tenho nada a ver com isso", apontou.
Dirigente de partido
Já o deputado Ely Aguiar (PSDC) criticou a matéria do Diário do Nordeste e disse que não afirmou que sabia dos boatos de que um candidato a deputado federal estaria "lavando" dinheiro do roubo do Banco Central, mas que fez apenas um questionamento sobre as acusações de Morais.
"A denuncia foi feita pelo Lula Morais, e eu, na hora que ele fez a denúncia, disse que pelo que eu entendi, o deputado Lula Morais está dizendo que é dinheiro do roubo do Banco Central. Eu não denunciei. Eu apenas questionei. Se eu tivesse essas informações, eu não apartearia o colega para dizer isso", afirmou. Ely, naquela ocasião, reforçou a denúncia da compra de votos e disse que até partido era vendido por dirigente.
O parlamentar afirmou que não vai atender a convocação do procurador eleitoral. "Eu não vou pisar nem lá. Ele que mande pegar a fita com as imagens da sessão para ver. Como eu vou ser inquirido por uma informação que não dei? A Polícia Federal passou a vida toda procurando esses caras, como é que eu vou saber quem são?", questionou.
Único deputado federal notificado pelo procurador para prestar esclarecimentos sobre denúncias de compra de votos, Chico Lopes disse que no Interior do Estado está havendo "uma confusão muito grande" no que diz respeito à compra de votos. "Eu não fiz citação nem citei nomes, falei como qualquer pessoa normal faria. Eu acho que o papel do Ministério Público Eleitoral é esse mesmo. Mas eu não acusei ninguém, até porque não tenho provas e não sou 'dedo duro'", afirmou o parlamentar.
Lopes disse ainda que essas denúncias só são feitas porque o momento político é de muita tensão entre os candidatos e ressaltou que o Ministério Público Eleitoral poderia ter aberto uma investigação sem precisar de denúncias feitas por políticos ou ter que convocar os parlamentares para depor a respeito do caso. "Mas eu vou, tranquilamente e calmo. Não tenho relacionamento estreito com o Interior, mas fiquei preocupado com as informações de venda de voto no Interior", afirmou.
AUTOR: DN
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