Cercado por denúncias de estelionato, o bispo do Crato, Dom Fernando Panico, está cada vez mais fragilizado dentro da Igreja Católica. Além das críticas dos fieis, agora, o religioso enfrenta a ira dos padres das paróquias pertencentes à Diocese. Na última quinta-feira (19), 54 padres foram convocados para uma reunião no Centro de Expansão do Crato. Na pauta, o abaixo-assinado pedindo a saída de Dom Fernando, que já circula nas paróquias.
Com a presença do bispo, mas comandada pelo homem de confiança, o padre da Sé Catedral, Edmilson Neves, a reunião teve momentos de tensão. Edmilson foi acusado de tentar abafar o caso e proteger Dom Fernando. Houve bate-boca, mas, pelo menos, 52 dos padres presentes confirmaram querer a saída do bispo. O meio seria a aposentadoria do epíscopo.
Mesmo com a desaprovação da maioria esmagadora dos padres e da comunidade católica, o bispo Panico, articulado internamente pelo padre Edmilson e pelo coordenador da Missão Resgate, conhecido como Geraldinho, diz que vai permanecer à frente da Diocese. O abaixo-assinado deve ser enviado aos Conselhos Regional e Nacional dos Bispos do Brasil.
Durante a reunião, foi anunciado que o padre Edimilson é o novo ecônomo do Conselho Econômico da Diocese. Há informações de que o cargo já era ocupado por ele e que todas as transações imobiliárias da Diocese tinham o seu aval.
Novas denúncias
Durante a reunião, no Centro de Expansão, foram avaliadas novas denúncias e um dossiê que circula nos bastidores. Segundo essas acusações, Dom Fernando detém uma propriedade onde funcionava o projeto social “Toca De Assis”, e está construindo uma mansão avaliada em R$ 1,5 milhão. Para contrapor a decisão, foi argumentada, por alguns padres, a crise financeira por que passa a Diocese.
Segundo a denúncia, a Diocese emitiu, nos últimos 24 meses, cerca de 35 cheques sem fundo e enfrenta protesto de uma dezena de títulos, sem falar de uma ordem judicial de busca e apreensão de uma caminhoneta Hilux pertencente à Diocese, que estava a disposição do próprio bispo Dom Fernando Panico.
Sobre a mansão, segundo as explicações dos defensores de Dom Fernando, ela teria sido adquirida pelo monsenhor Dermival, que estaria bancando a construção com recursos próprios e teria doado a mesma para o Bispo. O detalhe é que a área foi vendida pela própria Diocese, por R$ 60 mil, ao Monsenhor. Agora, o bem, avaliado em patamar milionário, estaria retornando ao bispo Dom Fernando.
Bispo na delegacia
Contrariando a rica história da Comunidade Católica do Cariri, o bispo Dom Fernando Panico foi o primeiro a entrar numa delegacia para responder à acusações de estelionato e formação de quadrilha. Ele foi ouvido sobre o caso da venda das 65 casas e prédios comerciais, pertencentes à Diocese do Crato. Os imóveis foram negociados com valores abaixo do preço de mercado, com o agravante de a Diocese continuar recebendo o aluguel.
O bispo foi ouvido na delegacia da Polícia Civil do Crato, na tarde de sexta-feira (20), pela delegada Lorna Aguiar e pelo escrivão Viana. O religioso estava acompanhado pelo advogado Iarles Macedo e do padre Ivo. Visivelmente abatido, Dom Fernando não quis falar sobre o assunto e saiu rapidamente.
Sobre o conteúdo do depoimento, o Jornal do Cariri teve acesso à parte das explicações do bispo. Ele reforçou o conteúdo da nota divulgada logo após as denúncias, onde diz que a venda das casas já foi cancelada, mas não soube explicar o que motivou a venda. Fernando Panico disse, ainda, que a quantidade dos imóveis não chega a 65 e que o número “exagerado” trata-se de uma campanha difamatória. No depoimento, Panico reafirmou que está sendo extorquido por jornalistas.
O inquérito é motivado pela denúncia de estelionato e formação de quadrilha, em ação movida pelos inquilinos dos imóveis que, se sentindo prejudicados, formalizaram a denúncia ao Ministério Público Estadual (MP-CE).
AUTOR: Jornal do Cariri
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