Os criminosos destroem as agências, tentando abrir cofres e caixas eletrônicos (Foto: Diário do Nordeste)
Os ataques de agências bancárias se tornaram recorrentes no Ceará nos últimos anos, embora sejam bastante violentas. Só neste ano, são 32 casos. Os bandos aterrorizam as cidades que atacam, atiram contra a Polícia, deixam os moradores acuados. Os danos que ficam não são apenas materiais. Depois das dinamites serem detonadas, a população precisa encontrar outro banco e recuperar sua tranquilidade.
O comerciante Paulo de Tarso Moreira, de Ocara, disse que já nem sabe quantas vezes os bancos do município foram atacados. "Antes mesmo de terminar a reforma da agência, acontece outra explosão. Nós, comerciantes, ficamos em uma situação complicada, porque precisamos arriscar fazer uma viagem transportando dinheiro, para realizarmos pagamentos e depósitos. Isso é um absurdo".
Segundo ele, a população em geral reclama da situação que enfrenta. "Hoje em dia, praticamente todo mundo precisa do banco. Quando acontece uma coisa dessas, toda a dinâmica da cidade é afetada. Sem falar no medo que as pessoas sentem de que estas quadrilhas voltem. Os vizinhos das agências passam por momentos de pânico quando essas coisas acontecem", afirmou Paulo Moreira.
O titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Raphael Vilarinho, disse que a Polícia tem feito o possível para diminuir os transtornos causados à população pelas ações criminosas. Segundo um levantamento da Delegacia Especializada, de janeiro a junho deste ano ocorreram 32 ataques a banco. No mesmo período, em 2014, foi registrada a mesma quantidade de crimes desta natureza.
De acordo com o Vilarinho, os ataques a banco no Ceará começaram no ano de 2009. Em 2012, houve um aumento expressivo, e os crimes cresceram mais de 100%. "O pico foi em 2012. Nunca havia sido registrado nada parecido. Foi um crescimento muito difícil de ser contornado. Eram ataques recorrentes, praticados por bandidos experientes", disse Vilarinho.
Os ataques persistiram e a primeira vez em que foi observada uma queda foi no ano de 2014, quando houve uma diminuição de 41%. Em 2015, não foi registrada redução ainda, apenas um empate com o ano passado.
"Quantitativamente, estamos em empate, mas qualitativamente, estamos ganhando. As quadrilhas têm conseguido cada vez menos levar dinheiro dos bancos, porque os especialistas estão presos. Todas as pessoas que sabiam manusear explosivos e estavam no Ceará foram capturadas" declarou Vilarinho.
Consumados
No ano de 2014, dos 32 ataques a banco ocorridos de janeiro a 23 de junho, 21 foram consumados. Neste ano, de 32 crimes, 14 foram consumados e 19 tentados. Para o delegado, o número atual comprova que as organizações criminosas perderam suas referências de ações bem-sucedidas, com a prisão dos 15 especialistas que agiam no Estado.
Dentre estes especialistas, Vilarinho cita Francisco de Assis Fernandes da Silva, o ´Barrinha´; Jucelino Costa da Fonseca, o ´Celino´; e Francisco Gilson Lopes Justino, o ´Meia-Luz´, como as mais significativas. "Com a captura deles e de todos os outros chefes, muitas quadrilhas foram desintegradas. Todos eram indivíduos perigosos, articulados no mundo do crime, com alto poder para arregimentar comparsas e armas de grosso calibre. Os grupos perderam muito de seu poder, quando eles saíram de circulação. O ´Barrinha´ e o ´Celino´, são considerados tão danosos que foram enviados para presídios federais de segurança máxima, para que não exista a possibilidade de que mantenham algum esquema, mesmo reclusos", declarou o delegado.
Vilarinho revelou que as quadrilhas que estão agindo no Ceará são interestaduais, mas têm integrantes locais. "As organizações precisam de pessoas que saibam dar dicas do funcionamento do banco, precisam de gente do local que será alvo. Sendo assim, existe a presença de cearenses nestes ataques, mas eles não têm a menor experiência com explosivos, tanto é que destroem as agências inteiras, só não conseguem abrir o cofre, que é o que importa para eles".
O delegado lembra que os outros ataques, em que não são utilizados explosivos, também caíram. "Ainda temos casos em que as agências são assaltadas na presença dos funcionários e também alguns com uso de maçarico, mas estes também caíram. Os ´maçariqueiros´ todos são da Região Sul, se dificultamos a entrada deles, ou colocamos empecilhos para que entrem no Estado, certamente eles se afastarão. E é isto que tem acontecido", declarou.
Migração
Raphael Vilarinho revela que as quadrilhas que roubam bancos são as mesmas que atacavam carros-fortes, mas migraram. "A dificuldade de interceptar um carro-forte é muito maior. Além de ser um veículo em movimento, é blindado e tem vigilantes treinados lá dentro. É diferente de atacar uma agência bancária, onde muitas vezes, as normas de segurança não são nem cumpridas em sua totalidade". O delegado disse que enfrenta dificuldades com a falta de investimento dos bancos em segurança. "Muitas vezes eles não nos oferecem o mínimo em subsídios para investigarmos os fatos".
Para Vilarinho, o fato dos ataques a banco diminuírem contribui para que outros delitos também sofram este impacto. "O crime organizado é uma teia bem formada. As quadrilhas utilizam o dinheiro que elas roubam dos bancos para comprarem armas e investirem no tráfico de drogas. Se elas não conseguem se capitalizar, tudo isto é prejudicado".
AUTOR: DN
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