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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

PERITOS CEARENSES IDENTIFICAM ORIGEM DAS DROGAS

O bioquímico e perito legista Holanda Júnior, supervisor do Núcleo de Toxicologia, explicou como são realizadas as análises na Perícia Forense do Ceará (Pefoce) e de que forma esses estudos auxiliam nas investigações (Foto: Fernanda Siebra/Diário do Nordeste)

A composição química de uma droga é um dos fatores que pode ajudar a Polícia a descobrir a origem do material ilícito. Durante o processo de fabricação e refino dos entorpecentes, cada organização criminosa acaba adotando procedimentos específicos de adição de substâncias variadas. A coincidência entre laudos, pode ser considerada nas investigações e os responsáveis pela negociação dos narcóticos identificados. No Ceará, o Núcleo de Toxicologia Forense da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) faz estudos deste tipo e está trabalhando na identificação dos perfis químicos de entorpecentes, que ajudarão na elucidação das rotas do tráfico que chegam até aqui.

De acordo com o bioquímico e perito legista Holanda Júnior, supervisor do Núcleo de Toxicologia, a partir da análise das substâncias controladas ou proibidas de cada apreensão, é possível que um conjunto vá sendo criado. "Com a identificação dos contaminantes, fica muito mais fácil saber que a droga vem desse ou daquele local".

O processo de separação e identificação de cada um desses contaminantes não é simples. Segundo ele, na mistura vendida como cocaína ao consumidor final, menos de 20% é realmente cocaína. Os outros mais de 80% seriam de substâncias, muitas vezes, improváveis.

Cada quilo de cocaína é desdobrado em, no mínimo, dez. As substâncias mais comuns nesse processo são insumos químicos como a lidocaína, fenacetina e a cafeína. A fenacetina é proibida no Brasil. "Já foi um medicamento permitido e era utilizado como antitérmico, mas foi proibido por conta da quantidade de efeitos colaterais que causava, como náuseas e enxaqueca forte. É adquirida em outros países e negociada no mercado negro daqui", disse o perito.

Outras substâncias comumente encontradas na cocaína são totalmente nocivas ao organismo, porque não são sequer feitas para serem ingeridas. Os laudos emitidos pela Pefoce já atestaram a presença de cal, pó de vidro, pó de lâmpadas fluorescentes trituradas, solução de bateria, querosene e gasolina nos narcóticos apreendidos pela Polícia do Ceará.

"São tantas substâncias que fica até difícil acreditar que alguém se arrisque a utilizar algum composto feito delas. Estas misturas são produzidas desta forma para substituir agentes químicos específicos, que seriam mais adequados, mas custam caro e são difíceis de adquirir", esclareceu Holanda Júnior.

Medicamentos também são adicionados para potencializar o efeito da cocaína. Conforme o perito, já foram achados nas amostras analisadas diversos anestésicos, inibidores de apetite e até fluoxetina, que é um antidepressivo. "Eles usam tudo para que o usuário tenha a sensação causada pela droga prolongada. Colocam na mistura qualquer remédio que, de alguma forma, se pareça com o efeito que a cocaína causa. Até mesmo anestésico para cavalos é colocado na droga. A quetamina já é até conhecida no mundo do crime como ´Pó de Anjo´".

Holanda Júnior revelou que novas drogas estão chegando ao Ceará. Uma amostra do alucinógeno 25NBOMe, produzido na Europa, foi identificado pelo Núcleo de Toxicologia. "O NBOMe é parecido com o LSD, mas não é tão potente e custa mais barato. Até pouco tempo ainda não tinha dele no Estado".

Toxicologia forense

As análises toxicológicas também podem ser feitas em amostras de sangue, vísceras e urina, para esclarecer mortes com motivação desconhecida, ou que foram causadas por acidentes. "Os exames em mortos não são realizados para identificar a causa da morte, mas para atestar se a pessoa tinha feito uso de alguma substância que possa ter levado à morte. No caso dos acidentes, os laudos são muito importantes para as investigações, porque podem ajudar na defesa ou na acusação", disse o perito.

Os corpos que dão entrada com suspeita de overdose, suicídio ou envenenamento também são analisados, para que a causa da morte fique clara. "Temos casos horríveis como de crianças mortas por envenenamento por madrastas e padrastos. Analisamos também intoxicações diversas por comprimidos e outras drogas. Em muitos dos casos de overdose, por exemplo, o consumo nem foi tão alto. Muitas mortes por intoxicação não são causadas por doses maiores que as habituais, mas pelo efeito deletério do que existe no organismo. Este acúmulo extrapola os níveis aceitáveis pelo corpo, em algum momento. Qualquer substância pode ser transformada em veneno. O que diferencia um remédio de um veneno, é apenas a dose administrada", explicou.

AUTOR: DN

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