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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ELEIÇÕES: REELEITA, DILMA CONCLAMA POR UNIÃO E PROMETE AÇÕES PARA REFORMA POLÍTICA

A presidente teve 51,6% dos votos válidos contra 48,4% do candidato do PSDB, Aécio Neves. A diferença em favor da petista foi de 3,4 milhões de votos FOTO: REUTERS
Derrotado nas urnas, Aécio Neves disse que deixa a disputa "mais vivo do que nunca, mais sonhador do que nunca" e com o sentimento de ter cumprido o seu papel. O tucano declarou que a prioridade do governo deverá ser unir o País FOTO: REUTERS

Brasília A presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou em seu pronunciamento logo após ser reeleita ontem que seu primeiro compromisso do segundo mandato será o do diálogo em busca da união, depois que as urnas mostraram o país mais dividido desde a redemocratização.

Falando a aliados e militantes, Dilma disse que união não significa necessariamente unidade de ideias, mas ressaltou que, algumas vezes, resultados apertados produzem mudanças mais fortes e mais rápidas do que vitórias muito amplas.

A presidente teve 51,6% dos votos válidos na votação deste domingo, contra 48,4% do candidato do PSDB, Aécio Neves. Foi o placar mais apertado desde a redemocratização do Brasil, em 1985. A diferença entre os candidatos foi de 3.458.891 votos. As abstenções somaram 21,10%, o que corresponde a um total de 30.137.165 votos.

"Minhas primeiras palavras são, portanto, de chamamento de base e união... Nas democracias maduras, união não significa necessariamente unidade de ideias nem ação monolítica conjunta. Pressupõe, em primeiro lugar, abertura e disposição para o diálogo. Esta presidente aqui está disposta ao diálogo, é esse meu primeiro compromisso do segundo mandato: diálogo", disse a presidente reeleita.

Reforma política

Em seu discurso, Dilma disse ainda que a reforma política é a primeira e a mais importante de seu segundo mandato.

"Meu compromisso, como ficou claro durante toda a campanha, é deflagrar esta reforma que é responsabilidade constitucional do Congresso e que deve mobilizar a sociedade em um plebiscito, por meio de uma consulta popular", disse Dilma em um hotel de Brasília.

"Como instrumento desta consulta, o plebiscito, nós vamos encontrar a força e a legitimidade... Para levarmos à frente a reforma política", acrescentou. Ela disse saber que foi reconduzida ao cargo para realizar mudanças que a sociedade brasileira exige, e que tem um compromisso com a reforma política.

Sobre economia, Dilma disse que promoverá ações localizadas, em especial para retomada do crescimento, garantia do elevado nível de emprego e valorização dos salários.

"Vamos dar mais impulso à atividade econômica em todos os setores, em especial no setor industrial", disse ela. "Quero a parceria de todos os segmentos, setores, áreas produtivas e financeiras, nessa tarefa que é responsabilidade de cada um de nós brasileiros e brasileiras".

A presidente afirmou também que seguirá "combatendo com rigor a inflação e avançando no terreno da responsabilidade fiscal". Em outra frente, Dilma disse que terá o "compromisso rigoroso" de combater a corrupção, com proposição de mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade.

"Proponho mudanças na legislação atual, para acabar com a impunidade, que é protetora da corrupção", propôs.

Ela afirmou ainda que vai procurar o diálogo com todos os setores da economia, em especial o industrial. "Quero a parceria de todos os setores produtivos e financeiros nessa tarefa que é responsabilidade de cada um de nós", avaliou.

No primeiro discurso após o resultado, Dilma disse ainda que seguirá combatendo com rigor a inflação, avançando no terreno da responsabilidade fiscal e dialogando com todas as forças produtivas do Brasil.

Militante número 1

Para que a presidente Dilma fosse a protagonista ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez papel de coadjuvante na solenidade de anúncio da vitória. Mas, a candidata do PT fez questão de mostrar a importância do padrinho, a quem agradeceu chamando de "militante número 1", ao abrir seu discurso.

Nesse momento, a presidente Dilma fez questão de se dirigir a Lula, que estava em segundo plano, ao lado de outros ministros e coordenadores da campanha, e dar dois fortes abraços nele.

Ao final da festa, mais um abraço apertado e Dilma ficou saudando e abraçando cada um dos ministros e presidentes de partidos ali presentes. Dilma já tinha dado outros fortes abraços em Lula pouco antes, ainda no Palácio da Alvorada. O primeiro, mais emocionado, quando saíram os primeiros números da apuração. O segundo, ainda mais comemorado, quando Dilma e Lula viram que tinham vencido as eleições em Minas. "Ganhamos em Minas" , gritavam eles. Foi a certeza da vitória.

Durante discurso, com voz rouca, a presidente mostrou-se impaciente quando os militantes gritavam em comemoração insistentemente. "Gente, eu não posso gritar mais. Eu não consigo", desabafou a presidente.

A petista, que garantiu ao seu partido o quarto mandato consecutivo no governo central, terá grandes desafios, como retomar o crescimento econômico e reconquistar a confiança de empresários e investidores. Seu governo precisará também dar respostas à sociedade sobre a suposta corrupção na Petrobras e que teria o envolvimento de partidos e políticos da base aliada, que veio à tona durante a campanha e virou tema de embate, porém sem força para mudar de forma significativa o voto de eleitores.

'Combati o bom combate', diz Aécio

São Paulo Derrotado, mas com um capital político de 51 milhões de votos, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse que deixa a disputa "mais vivo do que nunca" e que o resultado da eleição impõe uma prioridade a Dilma Rousseff (PT): unir o País.

Num discurso de dois minutos e em tom sereno, o político tucano agradeceu os brasileiros e afirmou que cumpriu sua missão. Aécio disse que a campanha o permitiu "voltar a sonhar e acreditar na construção de um novo projeto".

"Combati o bom combate, cumpri minha missão e guardei a fé. Obrigada a todos os brasileiros", declarou o mineiro.

O candidato derrotado disse que cumprimentou a presidente Dilma, por telefone. "Cumprimentei agora há pouco a presidente reeleita, desejei a ela sucesso na condução de seu próximo governo e ressaltei: considero que a maior de todas as prioridades deve ser unir o Brasil em torno de um projeto honrado e que dignifique a todos".

Ao lado de seus aliados, entre eles o candidato a vice da chapa, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), e o senador eleito, José Serra (PSDB-SP), Aécio voltou a usar uma mensagem de São Paulo que, segundo ele, "reflete o sentimento que tem hoje a minha alma e o meu coração: combati o bom combate, cumpri minha missão e guardei a fé".

Embora discreta, a fala de Aécio aponta para a determinação do mineiro em se manter na liderança da oposição pelos próximos quatro anos. "Mais vivo do que nunca, mais sonhador do que nunca, eu deixo essa campanha, ao final, com o sentimento que cumprimos o nosso papel".

O semblante dos tucanos era de abatimento. Aliado de primeira hora de Aécio, o senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG), estava com os olhos marejados quando o presidenciável subiu para fazer o pronunciamento após o resultado.

Aécio aguardou o resultado da apuração no apartamento de sua irmã, Andrea Neves, em Belo Horizonte. Ao lado de políticos, familiares e amigos, como o apresentador Luciano Huck. Segundo pessoas que estavam no local, o candidato passou quase o tempo inteiro com a família e demonstrou tranquilidade.

Ele aguardou a abertura dos números oficiais de frente para a TV, abraçado com a mulher, Letícia Weber, a mãe, Maria Lúcia, e a filha mais velha, Gabriela. Como a apuração já estava adiantada no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu os dados, assim que os números apareceram, Aécio admitiu a derrota.

Houve silêncio na sala. O próprio candidato rompeu. "É isso aí, bola pra frente, pessoal. Temos que continuar. Fizemos um bom trabalho".

Do lado de fora do prédio, dezenas de apoiadores esperavam o resultado. Eles foram chegando a partir das 18h, com cartazes, bandeiras e fotos de Aécio. Gritaram apoio a ele. No momento em que o resultado da eleição saiu, houve choro e revolta.

"É triste, é desesperador. Era a chance de o Brasil mudar", disse a cabeleireira, Zila Porto, de 48 anos. "É o voto da fome, mas temos que respeitar", disse o engenheiro Cipriano Oliveira, 59, que puxou o hino nacional assim que a derrota foi confirmada.

Durante o dia, Aécio e seus aliados sonharam com a vitória. A pesquisa Datafolha, que indicou uma recuperação do tucano nos últimos dois dias da disputa alimentaram a esperança de uma virada na última hora, a exemplo do que ocorreu na passagem de Aécio do primeiro para o segundo turno.

Uma das maiores decepções com a derrota veio do berço político do tucano, Minas Gerais, onde ele perdeu a eleição para Dilma, por cerca de quatro pontos percentuais: 52% a 48%.

Para o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) o partido vai precisar fazer uma reflexão sobre esse resultado. O grupo de Aécio comandou o Estado por 12 anos, mas, agora, perdeu o governo para o PT.

Na saída do evento em que falou com a imprensa, Aécio Neves recebeu um abraço de Pimenta da Veiga, candidato que escolheu para concorrer em Minas e que perdeu já no primeiro turno. "Lutamos, lutamos", disse Aécio ao aliado.

'Candidato excepcional'

Em sua primeira entrevista após a derrota do senador Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o correligionário foi um candidato excepcional e atribuiu a derrota ao tom agressivo adotado pela campanha da presidente Dilma.

"Eu tenho muita experiência de vida política e nunca tinha visto um esforço de destruição de candidaturas como o que foi feito com a Marina e com o Aécio", afirmou ele no térreo do edifício onde mora, no bairro Higienópolis, em São Paulo.

O tucano ainda avaliou que o resultado apertado da eleição deve dar origem a um segundo mandato de dificuldades para a presidente Dilma.

AUTOR: DN

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