Parte dos açudes do Estado vai secar no segundo semestre, quando aumenta o consumo d´água por conta do calor e a evaporação se acentua (Foto: Kid Júnior/Diário do Nordeste)
A possibilidade de o sertão cearense enfrentar uma nova seca em 2016, totalizando o quinto ano seguido de chuvas abaixo da média histórica, trouxe enorme preocupação para os produtores rurais, gestores municipais e técnicos do setor agropecuário. A informação do presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio Martins, de que o fenômeno El Niño pode ampliar a atual estiagem repercutiu como uma "bomba" no Interior do Estado.
Na região Centro-Sul, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Iguatu, Natália Feitosa, ficou preocupada. "É muito triste. Meu Deus, estamos em suas mãos!". O prefeito deste município, Aderilo Alcântara, mostrou-se surpreso e aflito: "Ele fez essa afirmação? Uma nova seca vai agravar ainda mais um quadro que já é desesperador, com perda da safra de grãos e, principalmente, da falta de água, que aumenta a cada mês".
Os gestores voltaram a exigir ação mais concreta por parte do governo do Estado. "Temos um plano de trabalho para atender a 34 comunidades rurais com abastecimento de água, mas estamos no quinto mês do ano e a Defesa Civil do Estado enviou autorizações (tickets) apenas para dois meses e para 18 localidades", disse Aderilo Alcântara. "Estamos perfurando poços e usando um carro-pipa para socorrer as famílias".
Depois de quatro anos seguidos de estiagem com pluviometria abaixo da média, perda da lavoura de grãos de subsistência (milho e feijão) e queda drástica nos níveis dos reservatórios, o governo do Estado ainda responde com ações localizadas e não tem um plano concreto de combate aos efeitos da seca, que vem se agravando. "São ações emergenciais", lamentou Alcântara. "A crise econômica não pode atingir os projetos de abastecimento de água no sertão".
O coordenador do escritório regional da Empresa de Assistêcia Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) em Iguatu, Joaquim Virgulino Neto, disse que em toda a região Centro-Sul a perda da lavoura de milho e feijão ultrapassa 50% e que em alguns municípios a frustração da safra de milho é superior a 90%. "Esse é o cenário atual, que se generaliza em vários municípios". Ele defende a necessidade de convivência com o semiárido. "Temos de aprender a enfrentar esses períodos longos de seca".
Abastecimento
Joaquim Virgulino Neto observa que o maior problema será o de abastecimento, já que, a partir do segundo semestre, a onda de calor é mais intensa, eleva-se a evaporação da água nos reservatórios e o consumo. "Se não houver recarga nos açudes em 2016 a situação vai se agravar ainda mais", prevê.
O secretário de Agricultura de Várzea Alegre, André Fiúza, mostrou preocupação com a possibilidade de ocorrência de mais um ano de estiagem. "É uma previsão desanimadora", disse. "Com certeza, traz preocupação para todos nós". A perda da lavoura de sequeiro e a escassez de água para abastecimento de áreas rurais ocorrem em todas as regiões. Nos Sertões de Crateús e nos Inhamuns o quadro é grave. "Essa notícia de mais um ano seco é desesperadora", disse o secretário de Agricultura de Independência, Mauro Amaro.
AUTOR: DN
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