DONA DA METADE DAS LOJAS ATINGIDAS POR INCÊNDIO EM SP, FICOU EM ESTADO DE CHOQUE

Incêndio neste sábado atingiu prédio na Rua das Noivas, no Centro de SP (Foto: Reprodução/TV Globo)

A proprietária de quatro das oito lojas atingidas por um incêndio na tarde deste sábado (10) na Rua São Caetano, conhecida como "Rua das Noivas", no Centro da capital paulista, ficou em estado de choque ao chegar ao local. Neuza Procópio, de 67 anos, soube da notícia por meio de uma de suas gerentes, por telefone.

"Não sei se rio, se choro, ainda não assimilei o que aconteceu. Só em duas lojas, tinha mais de R$ 1 milhão em mercadorias e máquinas. Trabalho aqui há 44 anos, e uma vez houve um desabamento, mas nunca algo assim", disse.

A dona das lojas informou que elas tinham seguro, mas não sabe o valor exato da apólice nem se cobrirá o que foi perdido. Nesta segunda-feira (12), Neuza deve se reunir com seu contador para discutir essa questão.

Ao lado da nora, Neuza administra as lojas Recanto das Noivas, Ritz Confecções, Maison Firenze e Ana Cláudia Noivas – além da Boulevard Noivas, que não foi atingida pelo fogo. Segundo ela, só na próxima segunda é que será possível avaliar os prejuízos e o que será feito para atender as clientes que tiveram seus vestidos queimados.

A funcionária Maria Raimunda da Silva, de 47 anos, que trabalha há mais de 20 anos nas lojas Recanto das Noivas e Ritz Confecções, estava muito emocionada e chorava em frente ao quarteirão incendiado, que abriga lojas de vestidos de noiva, roupas de festa, trajes masculinos, sapatos e a Igreja de São Cristóvão, construção do século 19 tombada como patrimônio histórico, que não foi afetada.

"Tínhamos mais de 50 vestidos de mulheres que vão casar na semana que vem. Hoje as lojas estavam cheias, vendemos bastante. Mas vamos nos levantar de novo e tentar entregar os pedidos. Ainda temos os equipamentos da Boulevard", afirmou a funcionária.

Maria Raimunda contou que os estabelecimentos haviam fechado as portas pouco antes de o incêndio começar – pelo que as testemunhas indicam, o início ocorreu na loja Via Sposa e se alastrou rapidamente.

Além dos vestidos, as quatro lojas de Neuza que foram destruídas tinham estoque de rendas e pedrarias, segundo a filha dela, Mara Lúcia Valente, que vive em Goiás, mas estava em São Paulo neste sábado.

"Tínhamos acabado de fazer uma restauração, pois os imóveis eram alugados. Não sabemos o que será feito com as encomendas, não deu tempo de pensar ainda. Você nunca imagina que isso vai acontecer com você", disse Mara.

Oito lojas de noivas e festas ficaram destruídas (Foto: Luiz Guarnideri/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)

'Barulho abafado'
A comerciante Juliana Viel, de 25 anos, que mora e trabalha há oito anos em frente às lojas atingidas, revelou que, por volta das 16h40 deste sábado, ela estava vendo filme com o marido quando começou a ouvir um "barulho abafado de fogos".

"Abri a janela, que dá para o outro lado, e só vi um homem filmando o céu. Aí veio a fumaça, que estava tão preta que parecia que o incêndio era aqui (na loja J. Lima, de trajes masculinos). Houve uma explosão e o telhado desabou", contou.

Forte fumaça foi lançada do local do incêndio por volta das 18h deste sábado (10) (Foto: Luna D'Alama/G1)

Segundo Juliana, os Bombeiros levaram em torno de 7 minutos para chegar ao local, quando o fogo já estava intenso. Enquanto isso, os funcionários das lojas se desesperavam para salvar algumas coisas.

"Foi uma tragédia, imagina quantos sonhos foram destruídos, quantas noivas pagaram por um vestido que nunca vão ter? Esse comércio é meio sazonal, agora tem muita festa, férias, o movimento estava grande", disse a comerciante.

Silvia Peres foi a uma das lojas provar vestido e ia voltar para comprá-lo (Foto: Luna D'Alama/G1)

Volta para fechar negócio
A escrivã Silvia Peres, de 34 anos, mora em Sorocaba, no interior de São Paulo, e passou pela Rua das Noivas por voltas das 14h deste sábado para procurar o vestido de seu casamento, marcado para o dia 1º de dezembro. Provou um modelo que custava R$ 1.200 e foi em busca de outros, mas não achou nada por menos de R$ 2.800.

Acompanhada da irmã Cláudia Peres, de 38 anos, Silvia foi fazer compras na Rua 25 de Março e estava decidida a voltar à Rua das Noivas na terça-feira (13) para fechar negócio. Antes disso, porém, as duas foram surpreendidas pelo incêndio e retornaram ao local para presenciar a cena dramática.

"Esse é um lugar de felicidade, amor, sonho. Hoje veio um monte de noivas provar vestido, e agora elas perderam tudo. O dinheiro é o que menos importa numa hora dessas", disse Cláudia.

Silvia concordou e afirmou que, infelizmente, não poderá esperar além da semana que vem para comprar o vestido. Por isso, vai acabar levando o modelo mais caro.

Vista das lojas após o controle do fogo pelos Bombeiros, no fim da tarde de sábado (Foto: Luna D'Alama/G1)

Perícia vai avaliar causa
Em entrevista coletiva concedida no fim da tarde deste sábado, quando o incêndio na Rua das Noivas já estava controlado, mas ainda não totalmente extinto, o tenente-coronel do 2º Grupamento do Corpo de Bombeiros, Nilton Miranda, destacou que a causa do fogo ainda é desconhecida, e só uma avaliação da perícia técnica poderá identificá-la.

"Foi uma alta carga de incêndio, pois tecidos têm propagação rápida, o que dificultou o combate. Além disso, o acesso era ruim, pois várias lojas tinham apenas uma entrada. E havia uma preocupação em não atingir a igreja ao lado, por ser um patrimônio histórico", informou.

Na hora do incidente, pessoas se reuniam na igreja, que havia encerrado uma missa pouco antes. Algumas saíram correndo, mas não houve pânico, pois se sabia que o fogo estava do outro lado.

Bombeiros contaram com 27 viaturas e 70 homens para controlar o incêndio em SP (Foto: Luna D'Alama/G1)

Segundo Miranda, o fogo foi contido uma hora após o início das operações, e o passo seguinte foi extinguir os focos restantes. Ao todo, foram enviadas 27 viaturas e 70 homens dos Bombeiros para o local, além de equipes de resgate, da Polícia Militar – que mandou viaturas e o helicóptero Águia –, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que interditou a região.

"Como o telhado – que era comum a todas as lojas – desabou, as paredes externas dos andares superiores podem ruir, por isso devem ser interditadas", afirmou Miranda.

O tenente-coronel dos Bombeiros disse ainda que prédios antigos como esse, em geral, tem sistemas de segurança contra incêndio adaptados, baseados em legislações anteriores, o que pode favorecer acidentes.

AUTOR: G1/SP