Nos dados oficiais, contabilizados pela Assessoria de Análise Estatística e Criminal (AAESC) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ainda constam quatro, uma vez que os dados referentes ao mês de outubro não foram fechados, deixando sem registro o caso ocorrido no Bom Jardim no último dia 8. No ano passado, ocorreu um crime dessa natureza.
Ao todo, são 24 vítimas. A maioria homens, mas há mulheres e uma criança de 3 anos. Dois casos aconteceram em Fortaleza. Os outros três em cidades da Região Metropolitana.
Dos cinco casos de chacina ocorridos no Ceará, três tiveram a prisão de pelo menos algum envolvido no crime. Os demais, como a chacina ocorrida em Aquiraz e a do município de Paraibapa, seguem sem a prisão dos culpados. Crimes são considerados chacinas quando há mais de três vítimas, sem chances de defesa.
Granja Lisboa
A primeira chacina deste ano aconteceu no dia 20 de fevereiro, no bairro Granja Lisboa, quando um tiroteio deixou cinco pessoas mortas e três feridas. O caso aconteceu em um dos apartamentos do conjunto habitacional "Leonel Brizola", na rua José Martins.
Segundo a Polícia Militar, quatro vítimas morreram no local com tiros na cabeça, e a quinta pessoa, um adolescente de 17 anos, chegou a ser socorrido com tiros na perna, no pulso e na virilha, mas morreu no hospital.
As vítimas foram identificadas como Valdirene Nascimento Ribeiro, 23 anos; Jeferson Badaró Gomes Oliveira, 23 anos; homem identificado apenas como "Bolota''; e mais um homem, também sem identificação. Além do adolescente de 17 anos. O tenente-coronel Jean Falcão, comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar, informou na época, que o caso teria ligação com a disputa pelo tráfico de drogas.
A Polícia Civil do Estado do Ceará informou, por meio de nota, que três pessoas foram capturadas no dia 20 de fevereiro, mesmo dia do crime, sob suspeita de participação na chacina. Porém, o POVO Online apurou que as prisões aconteceram dois dias depois, em uma ação conjunta entre a Divisão de Homicícios e Proteção à Pessoa (DHPP) e Grupos de Ações Táticas Especiais (Gate).
De acordo com a Polícia, os presos seriam Flaviana de Assis Forte, 23 anos, Francisco Alysson Lima dos Santos, 22 anos e José Carlos Pereira da Silva. Além desses, na ocasião, a polícia também tinha informado ao O POVO a prisão de Francisco Bruno dos Anjos da Silva.
Conforme a Polícia, no total, foram apreendidos durante a operação duas pistolas calibre 380, um revólver calibre 38, 28 munições, 25 trouxinhas de maconha prontas para comercialização, 411 gramas de maconha em um tijolo, duas balanças de precisão e cinco celulares.
A Polícia Civil informou ainda que a DHPP permanece em diligências, com o apoio do 32° Distrito Policial. Pessoas estão sendo ouvidas e a delegacia especializada trabalha no intuito de prender outros autores, bem como identificar a motivação do crime.
O POVO Online entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para confrontar as informações sobre a data da operação e a quantidadede de pessoas presas.
A Secretaria apenas reiterou que foram presas até o momento três pessoas e não explicou porque Francisco Bruno dos Anjos da Silva havia sido citado anteriormente.
Já sobre o fato das prisões terem ocorrido dias depois do crime e não no mesmo dia, como informado na nota, a Secretaria de Segurança não se pronunciou.
Aquiraz
No início do mês de junho, seis pessoas foram mortas durante uma festa em uma casa de veraneio no Porto das Dunas, em Aquiraz. Quatro homens encapuzados invadiram a residência e efetuaram vários disparos em quem estava no local. Todas as vítimas eram homens. Entre eles, estava Davi Saraiva Benigno, preso em 2015 acusado de liderar no Ceará uma quadrilha de tráfico de drogas sintéticas.
Conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) divulgou na época, quatro dos seis mortos não tinham antecedentes criminais. Além de Davi, morreram na chacina Nilo Barbosa de Souza Neto, 33, Matheus de Matos Costa Monteiro, 23, Edmilson Magalhães Neto, 25, Klinsmann Menezes Cavalcante, 26 e Fernando dos Anjos Rodrigues Júnior, 35, que respondia por estelionato.
O POVO Online apurou na época que as vítimas e os executores pertenciam a facções criminosas rivais.
Um mês após a chacina no Porto das Dunas, a Polícia Civil prendeu uma pessoa por força de um mandado de prisão, mas o suspeito foi liberado após o encerramento do prazo. Ao todo, 39 pessoas foram ouvidas na condição de testemunha, segundo a Secretaria da Segurança.
Entre os suspeitos identificados está João Guilherme da Silva Fernandes, de 22 anos, conhecido "Branquinho". Ele foi morto em confronto com policiais civis no dia 8 de junho, em uma ocorrência na localidade de Tapera, também em Aquiraz, onde a Polícia evitou uma nova chacina.
Em nota, a Polícia Civil do Estado do Ceará, por meio da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), informou que as investigações acerca da chacina, ocorrida no Porto das Dunas, em Aquiraz, estão em andamento.
Conforme a Polícia Civil, um dos veículos utilizados no dia do crime foi localizado semana passada, o que teria auxiliado no andamento dos trabalhos policiais.
Ainda segundo a Polícia, mais detalhes serão repassados no momento oportuno.
Horizonte
Dez dias depois da chacina em Aquiraz, cinco pessoas foram mortas durante uma festa de aniversário nas proximidades da Praça da Madame, no município de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). As vítimas foram duas mulheres, dois homens e um menino de três anos. Além deles, pelo menos outras duas pessoas foram baleadas e socorridas.
Bruna Viana e Herton Ricardo da Silva foram mortos no local. A criança de três anos, filho de Bruna, ainda foi socorrida à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Cidade, mas não resistiu aos ferimentos. Rafaela Alves Vieira, de 19 anos, e Marcilândio Cavalcante de Sousa, também chegaram a receber atendimento médico, mas não resistiram.
O POVO apurou na época que cerca de dez pessoas estavam em uma festa quando um grupo armado se aproximou da praça já atirando. Segundo o comandante da região, tenente-coronel Gilvan Araújo, o grupo criminoso que estava no Corolla pretendia matar um homem e abriu fogo. Outras pessoas que estavam no local foram atingidas, incluindo a criança.
No dia 22 de junho um jovem de 19 anos, identificado como Marcos Kleber Leite Silva foi preso e apresentado pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e Delegacia de Horizonte como sendo um dos responsáveis pelo crime. Três outros suspeitos foram identificados. Com Marcos Kleber foi encontrada uma pistola calibre ponto 40 da Polícia Civil da Paraíba. Além de ser indiciado pela chacina, Marcos foi autuado pelo porte de arma de uso restrito. No momento em que foi revistado, ele possuía maconha e crack.
Conforme nota da Polícia Civil, além de Marcos Kleber, foram presos e indiciados por serem os executores da chacina de Horizonte Marcos Kennedy Leite Silva e José Leandro Sousa Félix.
De acordo com a Polícia, um quarto envolvido, Orlando Miranda de Andrade Júnior, que já se encontrava recolhido no Sistema Prisional, também está respondendo pelo crime, após as investigaçãoes apontarem que ele foi mandante das mortes.
Ainda segundo a Polícia Civil, as investigações, que estão a cargo da Delegacia Metropolitana de Horizonte, com o apoio da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), permanecem no intuito de capturar o quinto envolvido.
Paraipaba
No dia 20 de julho, a rua Domingos Rodrigues, no município de Paraipaba, foi cenário de mais uma chacina. Quatro homens foram mortos com tiros na cabeça próximos a um bar. Uma quinta pessoa foi atingida, mas foi socorrida e sobreviveu.
Segundo a Polícia Militar informou ao POVO Online na época, os criminosos chegaram em um carro verde, ordenaram que as vítimas deitassem no chão e efetuaram os disparos.
Em nota expedida na ocasião, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que, por meio da Delegacia Municipal de Paraipaba, realizava buscas no sentido de elucidar a ocorrência. As vítimas haviam sido identificadas como Clayver Braga de Almeida, 16 anos, Felipe Sousa de Oliveira, 20 anos, Francisco Rangel Pereira Batista, 31 anos, e Rodrigo Araújo dos Santos, 24 anos. Ninguém havia sido preso.
De acordo com a Polícia Civil, o inquérito policial acerca da chacina, ocorrida na noite do dia 19 de julho deste ano, está a cargo da Delegacia Municipal de Paraipaba.
Conforme a Polícia, os trabalhos permanecem no intuito de representar pelas prisões dos envolvidos. No entanto, até o momento, não há ninguém indiciado.
Grande Bom Jardim
No caso mais recente, Luís Carlos de Oliveira, 14 anos, Rafael Bezerra Oliveira, 17 anos, Francisco Josué Araújo da Silva, 18 anos, e Adriano dos Santos Moreira, 20 anos, foram mortos em uma casa abandonada na comunidade do Marrocos, no Grande Bom Jardim.
Conforme o capitão da Polícia Militar Messias Mendes, o crime seria resultado de disputa interna de uma facção criminosa após um homicídio que aconteceu no dia 4 de outubro passado. Os quatro homens e uma pessoa conhecida da vítima do homicídio teriam marcado uma reunião na casa para fazer uma espécie de "acordo de paz", conforme Messias.
A Polícia Civil do Estado do Ceará informou que a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) capturou duas pessoas suspeitas de envolvimento na chacina ocorrida no último dia 8, no bairro Bom Jardim.
De acordo com a Polícia, a dupla foi presa com uma arma de fogo e os levantamentos apontaram para a participação de ambos nas mortes.
Perfil das vítimas
As 24 pessoas vitimadas pelas chacinas ocorridas no Ceará este ano foram três mulheres, quatro adolescentes, 16 homens, sendo quatro sem identificação e uma criança, filho de uma das mulheres mortas nos crimes. A idade das vítimas variam entre três e 35 anos de idade.
Para o jornalista e pesquisador da Segurança Pública, Ricardo Moura, a grande quantidade de homens jovens entre as vítimas dos crimes é o resultado de diversos fatores, entre eles, a cultura da hipervalorização da masculinidade. "Os jovens estão tendo o tempo todo querendo mostrar a força, a coragem e existe uma cultura que a arma expressa poder, então eles entram nesses confrontos, que estão fazendo com que eles morram mais cedo", explica.
Segundo o pesquisador, o número de mulheres vitimadas nas chacinas ocorridas no Estado, que corresponde a 12%, é superior ao que as pesquisas de vitimização apontam sobre mortes violentas, onde elas aparecem como sendo 5% das vítimas.
Conforme Lucas de Oliveira, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Estado do Ceará (Sinpol), esse número pode ser reflexo do aumento do protagonismo das mulheres em assumir os negócios ilícitos dos companheiros. “Antes elas eram utilizadas apenas para transportar drogas para os presídios, já hoje elas comandam os negócios enquanto os maridos estão presos e acabam se aliando aos mesmos grupos criminosos que os companheiros participam. Por isso, também se tornaram alvos”.
Motivações
Conforme O POVO Online apurou, as motivações das chacinas seriam disputas pelo tráfico de drogas, guerras entre facções rivais e vinganças. A de Paraipaba segue sem informações sobre o que teria motivado o crime.
Além da quantidade do número de vítimas, as chacinas possuem diferenciações dos demais crimes de morte, conforme Ricardo. "Ela envolve certo planejamento, que é diferente de um conflito interpessoal, baseado no emocional; normalmente, são realizadas por grupos fortemente armados e as vítimas são mortas com várias perfurações ou tiros na cabeça e requintes de crueldade", afirma.
De acordo com Ricardo Moura, os números de chacinas estão relacionados ao aumento geral da violência, o que tem causado uma banalização desse tipo de crime. "Esses casos já não causam tanta repercussão para a sociedade como ocorriam anteriormente e em algumas comunidades já estão se tornando rotina. Isso é um perigo, pois dificultam o surgimento de uma pressão popular para que os casos sejam solucionados".
Já para Lucas de Oliveira, o aumento seria ocasionado pelo poder que as facções criminosas estão tendo no Ceará. "A maioria desses crimes são encomendados de dentro dos presídios, por grupos rivais aos das vítimas, o que demonstra a falta de controle do Estado em conter esses grupos", afirma.
Para o presidente do Sinpol, barrar o poder das facções seria a solução para evitar chacinas e outros crimes. "É necessário o Governo fazer um planejamento de ações para retomar os presídios, investir no trabalho de investigação da Polícia Civil, para a identificação dos líderes e convocar a Força Nacional para reforçar esse enfrentamento e combater as possíveis represálias que irão acontecer aqui fora", sugere.
AUTOR: O POVO
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