sexta-feira, 5 de setembro de 2014

MENINO RELATA AGRESSÃO SOFRIDA POR ELE EM CRECHE DE SÃO PAULO

Menino de 4 anos dizia que monitora era brava, mas família não acreditava (Foto: Paulo Chiari/EPTV)

A família de uma criança que frequentou uma creche em Porto Ferreira (SP), onde uma monitora foi flagrada ao agredir vários alunos de 1 e 2 anos, disse que não acreditava quando o menino de 4 anos contava, no ano passado, que sofria agressões. Na última terça-feira (2), um pai colocou uma câmera na mochila do filho e registrou os ataques. A suspeita, que é pedagoga e trabalha na Prefeitura há três anos, foi afastada e está foragida. 

A Polícia Civil investiga se há outros casos.
Após ver as imagens de agressões contra as crianças, o tratorista Sebastião Ferreira disse, na quinta-feira (4), que agora sabe que o neto falava a verdade. Segundo o avô, a criança contava para a mãe que a monitora judiava. “Ela me chacoalhava, colocava eu de castigo e batia na outra criança”, disse o menino.

A família afirmou que procurou a funcionária para relatar a situação. “Ela disse que era invenção dele, porque é uma fase da criança e ficou por isso. Depois que vimos as imagens, a gente se revoltou. Uma mulher dessas não pode tomar conta de crianças, ela tem que ser punida”, declarou o avô.

Agressões
Outra funcionária que acompanhava as agressões feitas pela colega nem reagiu. Ela também foi afastada. O delegado responsável pelo caso, Miguel Capobianco, investiga se outras crianças do local também foram vítimas. A Justiça decretou a prisão temporária da monitora que aparecesse nas imagens.

Os pais que viram as cenas de agressão ficaram indignados. “Foi revoltante porque eu conhecia as duas monitoras e nunca passou pela minha cabeça que pudessem fazer uma coisa dessas”, disse a dona de casa Jussara Sobreira de Jesus, mãe de uma menina.

A soldadora Leia Braz contou que há duas semanas a filha chegou em casa com um vergão na orelha. A mãe foi à creche pedir explicações porque achava impossível que o machucado fosse causado por um brinquedo ou por outra criança.

Mãe relata que notou comportamento diferente da filha durante a noite (Foto: Paulo Chiari/EPTV)

‘Não, titia’
A gerente de loja Jucelaine Gisele Rodrigues da Silva também notou um comportamento estranho da filha, principalmente durante a noite. “Ela dormia muito assustada, falava várias vezes ‘não, titia’ no meio da noite. Achei muito estranho e desconfiei que estivesse acontecendo alguma coisa na creche porque em casa ela tem todo o carinho que uma mãe pode dar”, relatou.

Quando viu as imagens, Jucelaine teve a certeza do que já desconfiava. “Foi uma revolta muita grande, indignação, ódio. A vontade era de fazer justiça com as próprias mãos por todas as crianças que estavam sendo agredidas. Espero justiça e que isso sirva de lição. Quem não gosta do que faz, dê lugar para quem gosta porque tem muita gente boa para trabalhar com criança”, afirmou.

Maus-tratos
Para Lúcia Cavalcante de Albuquerque Willians, coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mudanças no comportamento da criança podem indicar maus-tratos. “Se ela é alegre, tranquila e risonha, ela começa a ficar mais calada, quietinha, pode chorar mais, ter mais pesadelos, começa a gaguejar”, explicou.

No caso de Porto Ferreira, ela disse que os pais perceberam esses sinais e agiram rapidamente. “A boa notícia é que nós somos pessoas fortes desde bebês e nos preparamos para aguentar alguns trancos nessa vida. Então essas crianças vão ficar um pouco mais arredias e chorosas, mas esse comportamento vai normalizar e não vai deixar sequelas”, relatou.

A especialista disse ainda que os pais devem se precaver e conhecer o ambiente escolar antes de matricular o filho. Na visita, já dá para perceber se os educadores utilizam alguma disciplina muito rígida que não é coerente com a etapa de desenvolvimento da criança.

“Precisa observar se as crianças parecem tranquilas, felizes, dando risadas, cantando. Na etapa de adaptação é possível visualizar muita coisa, sem interferir no trabalho do educador, mas analisar como é o clima daquela escola, de respeito e de tranquilidade, favorável ao crescimento da criança”, orientou.

Defesa e medidas
A Prefeitura abriu uma sindicância para apurar o caso e o prazo para a conclusão é de até 30 dias. José Roberto Carvalho, procurador jurídico do município, cita o princípio da ampla defesa como forma de dar oportunidade para que as funcionárias apresentem suas versões do ocorrido. "Elas vão ficar afastadas o tempo que for necessário para a apuração dos fatos", afirmou Carvalho.

A diretora do Departamento de Educação da cidade, Maria Regina Nery, descreveu o episódio como "um momento de extrema revolta e de vergonha". A direção da creche não se manifestou sobre o assunto.

Acompanhamento
As medidas tomadas pelo Conselho Tutelar, segundo o presidente Márcio Roberto Silva, serão protetivas. "Acompanhamento psicológico para que não fiquem com nenhum trauma por conta do que elas sofreram", explicou Silva.

Mães ficaram revoltadas com as agressões na creche de Porto Ferreira (Foto: Paulo Chiari/EPTV)

AUTOR: G1/SP

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