terça-feira, 7 de janeiro de 2014

'ECONOMIA DE RALOS' PODE CAUSAR MORTES EM PISCINAS, DIZ ESPECIALISTA

A morte de três crianças afogadas em piscinas nos últimos quatro dias levantou várias questões sobre a segurança desses locais no país. De acordo com um diretor da Agência Nacional dos Fabricantes Construtores de Piscinas e Produtos Afins (Anapp), fazer poucos ou um único ralo em uma piscina é uma "economia desnecessária", e que pode ter consequências graves.

Todas as vítimas, uma em Belo Horizonte, outra em Linhares, no Espírito Santo e uma em Goiás, morreram depois de serem sugadas pelo ralo da piscina. No Distrito Federal, uma criança de quatro anos foi hospitalizada em estado grave nesta segunda-feira (6), no mesmo tipo de acidente (veja casos mais abaixo). O G1 foi atrás de respostas para tentar entender como funciona a segurança, de quem é a responsabilidade e se os ralos usados são os mais seguros.

O diretor social da Anapp, Anibal Reichenbach, explicou que a primeira coisa que os pais devem ficar atentos ao chegar a uma piscina é o número de ralos.

“Nós consideramos lei para qualquer tipo de piscina pequena ter no mínimo dois ralos. As grandes tem que ter ainda mais vazão. A pressão deve ser distribuída por vários ralos com distância de 1,5 metro de um para outro. O ralo ideal deve ter uma tela para evitar que o cabelo fique preso e ser curvilíneo, para que você não consiga tampar por inteiro”, explicou.

Ele acredita que os acidentes aconteceram por causa de uma "economia desnecessária". “Eu sempre digo que na piscina a gente deve errar por excesso e nunca por falta. Esse excesso vai custar no máximo R$ 1 mil a mais”, lembrou.

Outra dica de Reichenbach é que as pessoas evitem piscinas escuras. “O ideal é que se tenha total visibilidade da profundidade da piscina. As piscinas devem ser bem iluminadas durante a noite”, falou.

O engenheiro e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia, Clemenceau Chiabi Saliba Júnior, também acredita que um maior número de ralos pode evitar acidentes. Ele explica que, dentre as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre construções de piscinas, uma delas diz que, no caso da bomba de sucção, a área do ralo não pode ser suficiente para prender uma pessoa.
Clube onde a menina Mariana morreu afogada, em Belo Horizonte (Foto: Reprodução/TV Globo)

Ele também fala sobre a preferência de uso do ralo curvilíneo, para que se evite a sucção total. Outra medida é que a saída da água aconteça de forma indireta, para que não haja absorção direta do ralo da piscina. O engenheiro diz ainda que, se o projeto for bem feito, essa sucção não precisa ficar ligada enquanto os banhistas estiverem nadando.

Apesar de toda a segurança que pode ser oferecida em piscinas privadas ou públicas, é importante que os pais mantenham a atenção sobre seus filhos. O cuidado deve ser tomado, inclusive, em piscinas próprias para crianças, mais rasas.

Legislação
Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) existem dois projetos de lei que pedem a obrigatoriedade de dispositivos para interromper o processo de sucção em piscina. Outros cinco projetos pedem a obrigatoriedade de salva-vidas, grades protetoras e outras medidas de proteção em piscinas públicas.

Em Belo Horizonte, a Lei nº 9.824 decreta que a segurança em piscinas é de responsabilidade do administrador e do usuário. Ainda segundo a lei, cabe ao responsável respeitar na construção e manutenção da piscina as normas de segurança, além de disponibilizar salva-vidas e informações de segurança. Ao usuário, cabe respeitar as normas de segurança e manter um comportamento responsável. A lei não cita de forma específica sobre a construção dos ralos.

Segundo a assessoria do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, eles só fiscalizam nos clubes itens de incêndio e pânico, como rotas de saída, grades em volta da piscina e saída de emergência.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Belo Horizonte informou que realiza fiscalização em clubes da capital mineira faz parte da rotina da Vigilância Sanitária e que o alvará deve ser renovado anualmente. Ainda segundo a SMS, durante as visitas toda a estrutura do clube é fiscalizada, inclusive a piscina. É observado o nível de cloro e PH da água e quais produtos são usados. Em caso de irregularidades, o local é notificado. Se o problema persiste, o clube pode ser multado e até interditado.
Naisla Loyola morreu após ter os cabelos sugados em piscina (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Mortes
Uma menina de 11 anos morreu após se afogar na piscina da própria casa, por volta das 17h de segunda-feira (6), no bairro Jardim Laguna, em Linhares, no Norte do Espírito Santo. Testemunhas disseram ao Corpo de Bombeiros que a criança mergulhou e teve os cabelos sugados pelo sistema de limpeza que fica no fundo da piscina. Naisla Loyola foi socorrida, levada pelos bombeiros ao Hospital Rio Doce, no Centro da cidade, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo funcionários do hospital, a vítima chegou praticamente sem vida, por volta das 19 horas.

Em Vicente Pires, no Distrito Federal, uma criança de 4 anos foi levada em estado grave ao hospital depois de se afogar em uma piscina particular. O acidente aconteceu no começo da tarde desta segunda-feira (6). Segundo o Corpo de Bombeiros, a vítima teve uma parada cardiorrespiratória, e foi levada para o Hospital Regional de Taguatinga.

Uma garota de 8 anos morreu após se afogar na piscina de um clube, no bairro Jaraguá, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Ela teve os cabelos sugados por um tubo que faz a sucção da água para que o escorregador da piscina funcione, de acordo com o relato de salva-vidas registrado em ocorrência da Polícia Militar (PM). A presidência do Jaraguá Country Club confirmou que a sucção da bomba que faz o retorno da água para o brinquedo sugou o cabelo da criança.

Outro acidente em piscina causou a morte de um garoto, em Goiás. Após três dias internado, o menino Kauã Davi de Jesus Santos, de 7 anos, que se afogou ao ter o braço sugado pelo ralo de uma piscina, morreu na madrugada deste sábado (4) no Hospital Santa Helena, em Brasília. Segundo boletim médico, após várias tentativas de reanimação, a criança teve falência múltipla de órgãos por volta das 5 horas.

AUTOR: G1/MG

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