Um empresário da rede hoteleira denunciou ao jornal a ocorrência de, pelo menos, 11 assaltos a hotéis e pousadas situados nas proximidades da Praia de Iracema, entre o fim de novembro e o réveillon. O denunciante, que pediu para não ser identificado, afirma que os criminosos são os mesmos em todos os casos. Ele chegam como clientes normais e perguntam se há disponibilidade de vagas, mas acabam rendendo os funcionários do estabelecimento e recolhendo as chaves dos quartos para roubar os pertences dos hóspedes.
A Polícia tem conhecimento de que seis assaltos com as características descritas pelo empresário tenham acontecido, mas apenas três foram registrados no 2º DP (Aldeota). De acordo com o administrador de hotel, que já foi vítima do bando, os momentos vividos, após o anúncio do assalto, são de terror. Segundo ele, as ações costumam demorar mais de uma hora.
"Os roubos, sempre à mão armada, são bem elaborados e programados nos mínimos detalhes. Dois homens chegam à recepção trazendo malas e perguntam se há vagas. Quando são autorizados a entrar para os quartos pegam as chaves e começa o horror. No meu hotel, eles arrombaram os quartos e trancaram os hóspedes dentro dos armários. Tive clientes e funcionários agredidos com socos e coronhadas na cabeça", afirmou.
Conforme o denunciante, nos primeiros ataques, os donos dos empreendimentos preferiram não registrar as ocorrências, para não "manchar a imagem" dos hotéis, mas diante da recorrência, decidiram acionar a Polícia. "Mesmo fornecendo imagens dos suspeitos, ninguém foi capturado. A Polícia flagrou um assalto em andamento, mas decidiu não abordar, porque os homens estavam armados e isto era um risco para as vítimas".
O empresário diz que o policiamento da área é deficiente e os PMs se concentram apenas na Avenida Beira-Mar. "Na área da Carlos Vasconcelos, Ildefonso Albano, João Cordeiro, Monsenhor Tabosa é muito fácil roubar, porque os policiais que deveriam estar na área toda estão parados na Beira-Mar. Não querem que os turistas saibam a quantidade de crimes que acontece na Cidade, mas esquecem que grande parte deles não se hospeda na Beira-Mar".
A vítima do roubo afirmou que os dois homens suspeitos rondam o hotel que vão atacar e já chegaram a tentar três assaltos em uma noite. "Rondam, mas quando veem algo fora do planejado desistem e partem para outro, até conseguirem o que querem". Os assaltantes levam celulares, tabletes, joias, dinheiro e notebooks dos hóspedes.
Segundo o empresário, depois de recolher tudo o que conseguem dentro dos quartos, os suspeitos enchem as malas e saem naturalmente. Um táxi, modelo Meriva, já foi visto diversas vezes aguardando a dupla na frente dos hotéis. "Esse táxi é sempre o mesmo".
Investigações
A delegada que preside os inquéritos, Socorro Portela, disse que no último dia 28 de dezembro foi feito um cerco durante um assalto, mas os dois suspeitos conseguiram fugir pelo telhado do hotel. "Impedimos a ação. Houve uma perseguição e acreditamos que eles ficaram lesionados e sofreram fraturas. Durante a fuga abandonaram um revólver municiado, uma mala e um boné. Já encaminhamos os objetos para o Núcleo de Papiloscopia da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), para que tentem descobrir a identidade dos suspeitos, pelas digitais", disse Portela.
A delegada disse ainda que os empreendimentos assaltados são de pequeno e médio portes e não têm segurança privada. Ela diz que as investigações estão avançadas e pede que a população colabore dando informações sobre os suspeitos.
O coronel Lauro Prado, que era comandante da PM quando os ataques aconteceram, informou que toda a área turística é policiada, porém existe uma concentração maior de policiais, onde há uma concentração maior de pessoas. "O Batalhão de Proteção ao Turista (BPTur) estende seus trabalhos a todas as vias que dão acesso à Beira-Mar e à Praia de Iracema, que é o caso de onde estão esses hotéis".
Agora como secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social(SSPDS), coronel Prado, diz que está aberto ao diálogo e convida os representantes da rede hoteleira para debater uma nova estratégia. "Estamos aqui para ouvir e buscar alternativas".
Associação afirma que prática não é comum
As providências sobre medidas de segurança que favoreçam o turismo no Ceará são "para ontem", na opinião de Darlan Leite, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/Ceará). Ele disse que não tem conhecimento desses roubos e que os hotéis atacados não devem ser associados à ABIH, mas afirmou que o assunto é importante e merecedor de atenção especial.
"Na rede hoteleira esta prática não é comum, mas se ocorreu é preciso que seja combatida antes que se prolifere. Um crime que dá certo não pode servir de exemplo para que outros marginais possam praticá-lo". O presidente da Associação disse que os hotéis estão preferindo terceirizar a segurança, para manterem seus hóspedes em tranquilidade. "Talvez por encontrarem esta dificuldade nos hotéis maiores, os assaltantes prefiram empreendimentos pequenos, fora da orla, onde a visibilidade é menor, para realizar seus procedimentos ilícitos".
Darlan Leite disse que a sensação de insegurança melhorou em 2014, mas ainda é necessário um aumento no quantitativo de policiais nas áreas turísticas. "A insegurança é contrária ao turismo. Não se faz turismo em lugares onde as pessoas não se sentem em paz. Esperamos uma investigação rigorosa".
Darlan Leite disse que mesmo os hotéis atacados não sendo associados, a rede hoteleira em geral pede providências. "Já que 'a galinha dos ovos de ouro' do Ceará é o turismo, é preciso que não sejamos, mais uma vez, maculados", destacou.
Denúncias
2º DP (Aldeota)
Rua Costa Barros,1971
Telefone: (85) 8878-8381
(delegada Socorro Portela)
AUTOR: DN
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